Além de recolher os resíduos e conscientizar a população a importância do Meio Ambiente a ação também promove um impacto direto na economia do Subúrbio

Enquanto milhares de pessoas se reúnem para dançar forró e celebrar as tradições juninas em Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, um outro movimento também se fortalece nos bastidores da festa: o da inclusão social e da sustentabilidade. Catadores e catadoras de materiais recicláveis ganham destaque por meio da 4ª edição do Arraiá Sustentável e Solidário, um projeto que promove trabalho digno, renda e respeito ambiental durante os festejos.
Coordenado por um coletivo formado por 11 cooperativas e associações, o projeto tem garantido estrutura, equipamentos e remuneração justa para mais de 150 trabalhadores da reciclagem. Só na noite de ontem (21), foi arrecadada 1,472 tonelada. A previsão é de que sejam arrecadadas 5 toneladas até o fim do evento.
Morador de Paripe e coordenador da cooperativa local Cooperguary, Genivaldo Ribeiro destaca que esta é a segunda edição realizada no bairro e reforça o objetivo principal da ação: oferecer dignidade e segurança aos catadores durante os grandes eventos da cidade.

Desde o último sábado (21), os catadores que chegam ao local são cadastrados mediante apresentação de documento e passam a receber kits completos de segurança, incluindo botas, luvas, calça, camisa, mochila e capa de chuva. Segundo Genivaldo, além de atuar em condições adequadas, os trabalhadores recebem R$1 por cada quilo de plástico coletado e uma bonificação de R$50 a cada 20 quilos. “Com isso, ao juntar 20kg de plástico, o catador já garante R$70. É um estímulo que reconhece o esforço de quem está ali coletando materiais com pouco valor de mercado, mas alto impacto ambiental”, explica.
Mais do que recolher resíduos, a ação também promove um impacto direto na economia do Subúrbio. Genivaldo ressalta que o dinheiro gerado pelo trabalho dos catadores circula na própria comunidade, aquecendo o comércio local. “O catador não pega esse dinheiro e vai gastar em outro bairro. Ele compra aqui, consome aqui. É uma economia circular real e potente. Nós quem estamos fazendo a festa acontecer”, afirma.
A iniciativa também é acompanhada de perto por Ana Carine Nascimento, coordenadora executiva do Centro de Arte e Meio Ambiente, organização da sociedade civil que atua em parceria com as cooperativas. Para ela, o projeto representa uma oportunidade de visibilizar profissionais historicamente marginalizados. Ana lembra que, por muito tempo, os catadores foram vistos como pessoas em situação de rua ou fora de qualquer estrutura de política pública. “Estamos ressignificando esse olhar social. Os catadores são protagonistas. Eles organizam o arraial, recepcionam os autônomos e cuidam de tudo com base na solidariedade e no comércio justo”, destaca.

Segundo Ana, materiais como alumínio, plástico, PET, vidro e papelão recebem tratamento adequado dentro da ação. O alumínio, por exemplo, é vendido a R$7 o quilograma; já o plástico e o PET, que têm menor valor de mercado, são pagos a R$1, com a já mencionada bonificação por quantidade:“Com isso, a gente estimula a coleta de materiais com menos valor comercial, mas que são extremamente nocivos ao meio ambiente. Imagine uma tonelada de resíduos que poderia estar no mar, nas ruas, e agora está sendo encaminhada corretamente para a indústria recicladora”, ressalta.
Além dos coordenadores, quem vive o projeto na prática também reconhece sua importância. Walter Ribeiro, de 45 anos, trabalha há seis anos como catador e atua no setor de pesagem dos materiais coletados. Para ele, participar da ação em Paripe é gratificante. “A gente vem aqui para ajudar a limpar a comunidade e, ao mesmo tempo, garantir o sustento. É bom trabalhar e receber com dignidade”, conta.

Walter explica que, mesmo sem saber os valores exatos arrecadados por cada trabalhador, é possível afirmar que o volume de resíduos recolhidos é significativo. Em locais com maior fluxo de pessoas, como nos grandes shows do centro da cidade, ele já viu até 12 toneladas de materiais recicláveis sendo recolhidas por noite.
O Arraiá Sustentável e Solidário, apoiado por órgãos estaduais como a CETRE, SEADS, SEDUR e organizações como o CAMA e o Fórum Lixo e Cidadania, se firma como exemplo de como os grandes eventos podem ser também espaços de cidadania, inclusão e transformação.