Apoio e resistência marcaram trajetória de Isabel Ribeiro, primeira mulher negra a comandar o Corecon-BA

Portal Umbu conversou com economista, que revelou carreira de 38 anos no Sebrae além de trabalhos na educação superior

Março chegou e o Portal Umbu abre o mês da mulher com uma série especial sobre mulheres atuantes em diferentes áreas do conhecimento. Ao longo deste mês, você acompanhará as trajetórias, feitos e projetos de mulheres que se movimentam por si e pela coletividade.

Iniciando a série, nossa primeira entrevistada é Isabel Ribeiro, economista e presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), eleita em janeiro deste ano. Com histórico como conselheira na coordenação da Comissão Mulher Economista, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), em 2021, e conselheira e vice-presidente no Corecon, em 2023, Ribeiro tem uma trajetória marcada pela capacidade de não desistir.

Foi no primeiro vestibular que prestou, que a economista enfrentou o primeiro obstáculo na sua trajetória profissional. Se hoje jovens negros ainda precisam sublimar os desafios para conseguir trilhar uma jornada acadêmica, há 40 anos isso era ainda mais difícil.

Isabel prestou vestibular para cursar economia na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Como era egressa de escola pública, não teve contato com a maioria das disciplinas exigidas e, por isso, não conseguiu passar na primeira seleção.

“A vida inteira estudei em colégio público e, por ter me formado em magistério, senti as dificuldades no primeiro vestibular. Perdi o primeiro vestibular. Com grande apoio da família, fiz um cursinho preparatório e, sem cotas, passei no vestibular para economia. Foi a maior alegria da minha vida passar nesse vestibular”, relata.

Nascida no bairro de Cosme de Farias, em Salvador, Isabel Ribeiro é filha de dois funcionários públicos, um policial militar e uma professora do primário. Já cursando economia na UFBA, outro desafio: sem uma rede de relacionamentos, a profissional teve dificuldades de conseguir um estágio. Sobre esse período, a economista lembra:

“Não tínhamos contatos com literatura, cultura e a UFBA nos dá essa oportunidade para diversificarmos a visão de mundo. Além disso, nossos pais não possuíam o que se chama hoje de rede de relacionamentos e network para colocação em estágios e no mercado de trabalho”. A presidente do Corecon-BA conta que, depois de um estágio na Caixa Econômica Federal, recorreu a “uma pessoa praticamente desconhecida” que lhe deu “grande apoio para o segundo estágio na Secretaria do Planejamento”.

Com o diploma em mãos, a entrada no mercado de trabalho também foi um desafio a ser superado. De acordo com Isabel, graças aos contatos que fez no último estágio, acionou alguns conhecidos e encontrou uma excelente oportunidade. Aos 23 anos, Isabel foi contratada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), começou trabalhando em Xique-Xique, município baiano a cerca de 500 km de Salvador.

No Sebrae, Isabel atua há quase 38 anos e, atualmente, é Gerente Adjunta da Unidade de Gestão Estratégica. Na academia, a economista já trabalhou como professora nas instituições de ensino superior Faceba, Ibes, Facsal, Centro Universitário Unijorge.

Em 2023, foi empossada no Conselho de Previdência Privada – Sebraeprev e é Associada Efetivo do Grupo Educacional ACBEU.

Analisando os entraves da sua jornada profissional, Isabel avalia que “jovens que tem origens e trajetórias como a minha, com certeza, têm muitos desafios para serem enfrentados e vencidos. Então a dica é estudar, estudar, estudar e nunca parar de estudar”, orienta.

“Se tiver oportunidades em estágio ou no primeiro emprego, dê o melhor de si, mostre um trabalho caprichoso e de excelência. Busque os Grupos de Apoio que lhes represente, hoje tem mais do que entre a década de 80 e 90”, completa.

Em janeiro deste ano, Isabel foi eleita por unanimidade para presidir o Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA). É a primeira vez que a autarquia é comandada por uma mulher negra.

Perguntamos a Isabel sobre ser uma inspiração para mulheres economistas que acompanham sua carreira. “Tem meninas que enviam mensagens para o meu Instagram pedindo apoio, orientações e oportunidades. Enquanto autarquia, há muitas limitações, mas tenho feito provocação junto a instituições públicas para formarmos um banco de jovens talentos que, com “mentoria” do Corecon-Ba, possam prestar serviços por meio dessas instituições. Por exemplo, consultoria com os jovens talentos para empreendedores e empreendedoras em situação de vulnerabilidade. Quem sabe, a partir dessa reportagem, possa sensibilizar alguma organização e dar oportunidades para jovens economistas?”, finaliza indagando.