O escritor moçambicano Adelino Timóteo relatou ter vivido um episódio de racismo durante sua passagem por Salvador, onde participou da Feira Internacional de Literatura do Pelourinho – Flipelô.
Homem negro de pele retinta, ele contou que, no hotel em que estava hospedado, foi abordado por uma hóspede branca. Ao vê-lo, ela pediu que a servisse, presumindo que fosse funcionário do local apenas por causa da cor de sua pele.
“Meu editor foi embora, eu fui sentar num hall, como se estivesse à espera de alguém, como se tivesse a passar tempo. E chega uma senhora que eventualmente desejava algo, vem ter comigo e e pergunta se eu era o servente do hotel. Eu sorrindo, olhando para ela, disse que não, não era. E depois ela mudou a face da conversa, mostrou-se mais assim, meio entre constrangida e condescendente”, contou Adelino.
Ao se apresentar como escritor e recusar o pedido, ouviu desculpas da mulher, que tentou amenizar a situação afirmando “amar a africanos”, comentário que, segundo ele, não apaga o impacto da atitude racista ocorrida minutos antes.
Em conversa com a escritora Carla Akotirene, registrada em vídeo e publicado no último domingo (10), Timóteo refletiu sobre como o episódio afetou seu bem-estar e destacou a dureza de viver em um país marcado por profundas desigualdades sociais e pelo preconceito racial.
Adelino relembrou que amigos já vieram ao Brasil, mas nunca contaram qualquer experiência com o racismo. “E foi um choque para para mim. Sinceramente, não era esse Brasil que eu esperava encontrar”.
“Eu esperava encontrar outro Brasil, um Brasil mais justo, mais pleno, mais igualitário, sem essa fronteira entre brancos e pretos. Parece que estamos aqui num território neocolonial. Eu penso que o Brasil devia se encontrar a discutir muito essa questão de fronteiras sociais, porque é injusto que várias gerações continuem a carregar o peso de um sistema imposto e totalmente marcado pela supremacia de um homem em detrimento do outro”, concluiu o escritor.
