Um novo mercado abre na redondeza. Na inauguração, entre promoções do charque ponta de agulha e do quilo do tomate, infindáveis caixas operam em alta pra dar conta do fluxo de clientes, uma “vibe” bem bolsa de valores que, nos dias seguintes, dá lugar à dura realidade econômica e, dos 30 caixas, só 5, agora, estão em funcionamento. Não é que a solução para a agonia de ver esses caixas vazios enquanto a gente pega filas enormes é realmente deixar eles vazios?!
O que já vinha sendo tendência mundo afora, o varejo autônomo tem se consolidado no Brasil como uma alternativa viável para dinamizar as compras e adequar a realidade cotidiana das pessoas às capacidades econômicas das lojas de varejo, principalmente após o cenário de isolamento e crise da pandemia de Covid-19. Uma onda bem “Compras a Go Go”, sufixo clichê para as tais lojas em que se compra enquanto brinca de mercadinho, tem usado uma tecnologia que nem é lá tão revolucionária assim para reduzir (ou até mesmo não ter) funcionários e qualificar a experiência de consumo.
A iniciativa mais contundente do varejo autônomo, ou auto-checkout, é o Amazon Go. Literalmente de A a Z, o marketplace norte-americano finge que confia nos seus consumidores enquanto eles acreditam estarem livres, leves e soltos em seus mercadinhos sem, literalmente, qualquer funcionário. Se para entrar basta se identificar pelo aplicativo da loja, para comprar, o usuário é monitorado por sensores de presença em 3D enquanto o carrinho, que ele empurra pra lá e pra cá, é equipado com balanças, sensores infravermelhos e câmeras acionadas por proximidade; ou seja, uma penca de sensores orquestrados que sabe o que saiu da prateleira e foi pra qual carrinho da loja. Pra sair, basta passar pela zona de checkout, que detecta tudo que está em sua tela remotamente, e ir “simbora” com a cobrança já no cartão cadastrado no app.
Enquanto aqui no Brazza a Amazon ainda está disputando espaço (e olha que tem até perdido) na corrida dos deliveries com Mercado Livre e Magalu, o projeto “a Go Go” de Bezos não tem previsão de botar a cara no sol por aqui e nosso varejo vai dando passos de formiga e sem vontade na qualificação do varejo com os caixas de autoatendimento. Entre um chamado e outro ao bom e velho colaborador do colete “posso ajudar?”, o clássico código de barras na luz vermelha fazendo barulhinho bip-bip tenta dar mais praticidade aos compradores mais modernosos que fazem o trabalho do operador do caixa ao lado. Se é modernidade ou apenas precarização do mercado de trabalho, recomendo passar um fardinho da sua gelada de preferência pra ficar pensando melhor.
Mas, diferente do que os gringos pensam, não são só eles que pensam à frente. A brasileiríssima Havaianas resolveu vender chinela com essa tecnologia totalmente autônoma e, ainda, com um toque de sustentabilidade. Para quem estava de rolê no Parque Villa-Lobos, na capital paulista, e torou o prego da sandália, basta chegar na Havaianas Go (eu falei que era um negócio bem a Go Go), um container feito com, aproximadamente, 1000 Kg de material reciclado, inclusive sandálias Havaianas, aberto 24 horas onde basta um cadastro no aplicativo da loja para escanear seus pares preferidos e sair saindo de chinelo novo. O baque na conta é direto pelo app também.
Da surra de sensores ao uso de aplicativos no aparelho do próprio cliente, o grand finale dessa tecnologia é a coleta de dados intensa do seu público. Ao eliminar o intermédio do operador terceiro, a proximidade do cliente com o varejista apura as nuances analíticas da compra e cria um acesso direto ao público-alvo, que concede e consome informações mais rapidamente e em maior volume. Na realidade atual, a maior moeda do mundo é virtual e o bem mais valioso é tão abstrato quanto um byte, o dado mais casual que você produz online é a origem pra uma rede de inteligência artificial cada vez mais assertiva, ao passo que a gente pega menos fila no mercado.