Abertura da exposição na capital baiana contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes
A abertura da exposição “Brasil Futuro: As formas da democracia” ocorreu na tarde desta sexta-feira (14), no Centro Cultural Solar Ferrão, no Pelourinho. Quem abriu os trabalhos do evento foi o Bloco Cortejo Afro, que recepcionou, com música, a ministra da Cultura, Margareth Menezes e a curadora da exposição, historiadora e antropóloga, Lilia Schwarcz.
“Brasil Futuro” foi inaugurada no dia 1° de janeiro, em Brasília e já circulou pelo estado do Pará, nesta sexta-feira (14) chega a Salvador, como parte das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia. A mostra conta com curadoria de Lília Schwarcz, Paulo Vieira, Márcio Tavares, Roberta Carvalho e Rogério Carvalho.
Estiveram presentes no evento, o secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, a diretora-geral do IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia), Luciana Mandelli, a diretora da Funceb, Pitti Canella e a nova diretora do MAM (Museu de Arte Moderna da Bahia), Marilia Gil.
A exposição reúne diversas obras que dialogam com a inclusão e traduzem a diversidade artística produzida no Brasil. São produções de cerca de 200 artistas visuais brasileiros de diferentes gerações, raças, gêneros e regiões do país.
Emocionada com a abertura da exposição, a diretora-geral do IPAC falou sobre o impacto e o simbolismo de receber a mostra em um espaço histórico.
“O Ferrão é um equipamento, é um museu importantíssimo para a história da Bahia, que conta sobre a nossa constituição. A gente escolheu fazer aqui uma das nossas principais atividades de comemoração do Bicentenário, através das exposições. A gente teve uma primeira rodada de abertura das exposições no dia 30 e hoje a gente vai abrir aqui uma exposição que é muito emblemática e que a gente está convidando a população baiana para fazer uma reflexão sobre as liberdades, sobre a democracia. Então a gente recebe hoje com muita felicidade essa exposição Brasil Futuro aqui”, declarou.
Luciana Mandelli também falou sobre dar visibilidade à arte nacional, à liberdade e como o tema se relaciona com a Bahia. “Pela primeira vez, esse museu recebe uma exposição de arte popular no seu todo. A gente já teve coleções de arte popular aqui, mas é a primeira vez que ele é tomado todo com arte brasileira e com artistas nacionais contando a nossa história. O Brasil começa, de certa forma, aqui também e essa é uma forma de mostrar como a gente quer que O Brasil comece. Então, dialoga muito com o tema da liberdade, dialoga muito com essa questão de da Bahia ser essa terra da liberdade e essa exposição ajudam entender um pouco isso”, disse.
“É um momento de alegria, quero parabenizar essa exposição maravilhosa que a cada lugar que chega, se adapta e dá oportunidades aos artistas locais. Falar de democracia, refletir sobre as nossas dores, sobre aquilo que passamos nesses últimos seis anos, desde o desmonte do Ministério (da Cultura), com o desmonte das políticas públicas. O povo brasileiro merece políticas públicas para promover e dar oportunidade a todos. Da região norte, nordeste e para aqueles que mais precisam”, afirmou a ministra da Cultura.
Lilia Schwarcz, curadora da exposição, acompanhou a ministra da Cultura durante a visita e apresentou as obras à chefe da pasta. A Bahia recebeu a maior versão da exposição, com cerca de 300 obras que ocupam os três andares do Solar Ferrão. Com o objetivo de dar visibilidade a grupos que geralmente são colocados à margem da sociedade, a mostra, que originalmente é dividida em três núcleos – Retomar Símbolos; Descolonizar; e Somos Nós -, em Salvador, ganhou um quarto espaço: Tudo é Dádiva.
Segundo a organizadora de “Brasil Futuro”, a exposição nasce com a eleição do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no entanto, devido a relevância do tema, surgiu a ideia de levar a mostra para outras cidades do Brasil. Sobre o processo de curadoria da exposição, ela revela ter sido uma busca em diferentes estados do país.
“Inicialmente, a exposição foi um pouco do meu acervo, com alguns artistas, porque eu acredito que os artistas tiveram um papel fundamental nesse processo de redemocratização do Brasil. Depois, achamos que a exposição estava um pouco sudestina, então fomos a Belém, aí ela ficou mais indígena e mais negra e agora viemos tomar a benção de Salvador. Criamos um núcleo novo trazendo a espiritualidade, a força da Bahia, que sempre esteve na vanguarda das artes”, explica Lilia.
Schwarcz ressalta ainda esse momento histórico de retomada da cultura. Para a historiadora e curadora da mostra, é essencial a recriação de um ministério dedicado ao setor cultural.
“Sabemos que o ministério foi fechado, virou uma secretaria, sem verba alguma. Uma secretária muito impactada por um tipo de concepção de cultura. Acho que a cultura precisa ser múltipla e plural. Algo muito paradoxal é que ao mesmo tempo que tinha uma verdadeira guerra cultural como, por exemplo, escola sem ideologia. A cultura do povo acabou ficando escondida”, explica.
Para Bruno Monteiro, secretário de Cultura da Bahia, a exposição conversa com o entendimento da importância do povo na emancipação do estado. “Falar de Brasil do futuro é construir a partir da história, das identidades. Neste momento celebramos o bicentenário da independência, que foi consolidada aqui na Bahia, com o entendimento de que essa história precisa ser ressignificada. É uma história que precisa ser contada a partir da lógica do povo, que foram as mulheres, os negros, os indígenas, os caboclos, as marisqueiras, os pescadores”, diz.
Falando sobre a pluralidade de artistas no acervo da exposição, Luciana Mandelli falou sobre a importância de poder contar com acervos locais e populares, artistas e coleções nacionais. “Essa forma de fazer, apresentar a arte, e a história também, é um método muito interessante. A gente se propôs a dialogar com o que havia de mais erudito e mais popular nos nossos acervos, recebendo as obras que foram vítimas do ataque nessa ação em janeiro, é à presidência da República, ao STF. É um momento de muita emoção”.
Em convite para que a população visite a exposição, a diretora-geral do IPAC falou sobre os planos para o Pelourinho, bairro que recebe a mostra. “A gente quer incluir com cultura, a gente quer incluir com trabalho, com outras formas de fazer e ver nessa comunidade. Então, o Ferrão também abre as suas portas para isso. Nesse momento, nada melhor do que receber a democracia pela porta para a gente poder falar sobre esse assunto. Venham visitar a democracia, a Bahia, a história do Brasil. Venham conhecer o Solar do Ferrão, revisitá-lo e revisitar a nossa história”.
“Brasil Futuro” conta com peças de artistas consagrados como Djanira, Mário Cravo e Mestre Didi e contemporâneos como Denilson Baniwa, Daiara Tukano, Flavio Cerqueira e o Bastardo. Os visitantes poderão conferir essas obras às terças-feiras e aos domingos, das 10h às 18h. A mostra ficará na Bahia até 15 de novembro de 2023.