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Urgente: a notícia mais importante de todos os tempos da última semana; saiba mais

Em sua coluna, o jornalista Diego Mascarenhas reflete sobre os rumos do jornalismo contemporâneo

Agora que você foi fisgado por esse título cretino, eu preciso enrolar você por mais alguns parágrafos para te apresentar – apenas no último parágrafo – uma informação completamente irrelevante para sua vida. É assim que determinadas publicações on-line deveriam iniciar suas “matérias jornalísticas”, se fossem minimamente honestas com seus leitores. Mas obviamente isso não passa de um desejo ingênuo de um jornalista mal-humorado, que é obrigado a ler todo tipo de tosqueira na “imprensa” todos os dias da semana.

Por ser obrigado a ler todos os dias os valorosos sites de notícias baianos tenho visto, cada vez mais, o apelo de parte da imprensa com títulos que são verdadeiras armadilhas para enganar leitores desavisados. Como o povo acha refinado usar expressões em inglês para todo tipo de coisa, essa estratégia canalha de fazer títulos alarmistas para atrair a atenção – e o clique – do internauta é chamada de “clickbait”, que significa “isca de cliques”. É apelativo e insuportável bater de frente com uma manchete alarmista? Claro que é. Mas você vai clicar, porque não se aguenta de curiosidade diante de um título cheio de mistério? Sim, infelizmente você vai. E é isso que os sites querem. E é por isso que os sites estão investindo cada vez mais nessa estratégia. E é por isso que eu não aguento mais acessar esses sites, e só faço isso por obrigação.

A minha dica para quem não quer dar a ousadia de ser fisgado por essas iscas: vá no Instagram e veja a mesma chamada alarmista no feed. Acesse os comentários do post e descubra qual o mistério que está por trás da manchete cretina que cruzou o seu caminho. Sempre tem uma boa alma para dar a informação completinha nos comentários. Assim você evita dar aquela visualização a mais para o site canalha que tentou te fazer de besta. Dá mais trabalho ir no Insta? Claro que dá. Mas você dá sua pequena contribuição para reduzir os acessos àquela matéria. E de grão em grão… ok, ok, não vai adiantar muita coisa, mas você vai se sentir em paz de não ter contribuído com o péssimo jornalismo que estão tentando transformar em regra.

Eu simplesmente me recuso a ler qualquer título que tenha “fulano revela”, porque nunca existe revelação. É só uma informação qualquer sobre um assunto que todo mundo já sabe. “Descubra o que disse fulano de tal”? Nunca, jamais. Eu não sou explorador marítimo do século XV, só quero a bendita informação. E se tem um “urgente” antes de qualquer título eu simplesmente fecho o site e faço uma oração para a morte do jornalismo. E quando tem o título e ao final vem um ponto e vírgula e a expressão “saiba mais”? Ora, ora… qual a notícia que se resolve no título? Sempre uma notícia tem a finalidade de garantir ao leitor que ele saiba mais sobre aquilo.

Eu citei exemplos mais simples para não expor ninguém, porque o que eu tenho lido de apelação em nossos sites não caberia aqui. Tenho absoluta certeza que há uma escola especializada em clickbait na Bahia. E o dono dessa escola está muito rico. Já o nosso jornalismo…

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