
O Ministério das Relações Exteriores de Israel anunciou nesta segunda-feira (25), que rebaixará as relações diplomáticas com o Brasil depois de o Itamaraty não responder à indicação de Gali Dagan para assumir a embaixada em Brasília. O governo israelense informou que retirou o nome do diplomata e que não enviará outro representante para o posto, afirmando que as relações entre os países passarão a ser conduzidas em um “nível inferior”.
A concessão do agrément, autorização necessária para que o embaixador exerça a função, ficou em análise por meses, sem resposta. Nesta situação, a ausência de manifestação foi interpretada como uma recusa.
A decisão intensifica a crise entre os dois países, já abalada desde fevereiro do ano passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi declarado “persona non grata” por Israel após comparar as ofensivas militares em Gaza ao Holocausto. A fala do presidente foi criticada por autoridades israelenses.
Na ocasião, o então embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi convocado a uma reunião e levado pelo chanceler Israel Katz ao Museu do Holocausto, gesto visto pelo Itamaraty como uma tentativa de humilhação. Poucos meses depois, Meyer foi chamado de volta a Brasília e o posto segue vago desde então.
O assessor especial da Presidência e ex-chanceler Celso Amorim afirmou que a decisão do governo brasileiro de não conceder o agrément a Gali Dagan foi uma resposta ao tratamento recebido pelo representante brasileiro em Tel Aviv. “Não houve veto. Pediram um agrément e não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?”, disse em entrevista à TV Globo.
Amorim ressaltou que o Brasil não é contra Israel como nação, mas condena a política do governo de Benjamin Netanyahu em Gaza. “Nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma barbaridade”, afirmou.
Em nota o Ministério das Relações Exteriores condenou os ataques de Israel contra um hospital em Gaza. Os bombardeios foram realizados em 25 de agosto contra o hospital Nasser, em Khan Younis, Sul da Faixa de Gaza, que provocaram a morte de ao menos 20 palestinos — incluindo jornalistas e trabalhadores humanitários — e o ferimento de outras dezenas de pessoas.
“Hospitais e unidades médicas gozam de proteção especial pelo Direito Internacional Humanitário, e ataques a tais instalações podem configurar crimes de guerra, conforme as Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolos Adicionais. O bombardeio contra o hospital Nasser soma-se a um padrão reiterado de violações perpetradas pelo governo de Israel contra a população palestina. A responsabilização por tais atos é condição essencial para evitar sua repetição e assegurar justiça às vítimas”, disse o Itamaraty em nota.
“O governo brasileiro conclama a comunidade internacional e os mecanismos competentes das Nações Unidas a assegurar a realização de investigação independente, imparcial e transparente, de forma a garantir a devida responsabilização pelos atos”, segue o texto publicado.
“Ao reiterar apelo por cessar-fogo imediato, o Brasil insta o governo de Israel a interromper os ataques contra a população civil de Gaza, a assegurar aos jornalistas o direito de desempenhar livremente e em segurança seu trabalho e a levantar restrições vigentes à entrada de profissionais da imprensa internacional e de ajuda humanitária naquele território”, finaliza.
Com informações do Correio Braziliense