...

Portal UMBU

Após denúncia de transfobia, Afoxé Filhos de Gandhy firma Termo de Ajustamento de Conduta com MP-BA e garante inclusão de homens trans

Afoxé se comprometeu a excluir cláusula que restringe participação no bloco carnavalesco às pessoas do sexo masculino cisgênero

Foto: Reprodução

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Associação Afoxé Filhos de Gandhy para garantir a retirada de cláusulas discriminatórias do estatuto do bloco carnavalesco. O acordo ocorre após denúncias de que homens trans foram impedidos de participar do desfile de 2024, por conta de uma cláusula que restringia a presença no grupo a pessoas do sexo masculino cisgênero.

Com a assinatura do TAC, o Filhos de Gandhy se comprometeu a alterar o estatuto e divulgar, em suas redes sociais e no site oficial, uma nota pública reconhecendo que homens trans são bem-vindos no bloco. A medida visa reparar os danos causados e reforçar o compromisso com a inclusão e os direitos humanos.

Como parte do acordo, o afoxé também deverá realizar ações de reparação social, incluindo a doação de R$ 10 mil ao Coletivo Mães da Resistência — que atua na defesa de familiares de pessoas LGBTQIA+ vítimas de violência — e a produção de até 400 camisas para o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat).

A polêmica ganhou repercussão nacional após homens trans denunciarem, publicamente, que foram impedidos de desfilar com o bloco. À época, o grupo chegou a distribuir um termo durante a entrega das fantasias em que reafirmava a exigência de que apenas homens cisgênero poderiam integrar o afoxé. Após críticas e pressão de ativistas e da opinião pública, o documento foi recolhido.

Além das denúncias de transfobia, o bloco também já foi alvo de críticas por comportamentos machistas e pela forma como trata as mulheres. Embora não permitam a participação feminina entre os associados, integrantes do Filhos de Gandhy já foram denunciados por assédio durante os desfiles e por atitudes desrespeitosas com foliãs. Em diferentes edições do Carnaval, relatos de mulheres abordadas de forma invasiva por membros do bloco reforçaram a cobrança por uma postura mais ética e responsável, em contraste com o discurso de paz e espiritualidade que a entidade historicamente prega.

Fundado em 1949 por estivadores portuários, o Afoxé Filhos de Gandhy é um dos blocos mais tradicionais do Carnaval de Salvador. Em 2024, comemorou seu 76º ano com o tema “Ogum – O Senhor do Ferro, dos Metais e da Tecnologia”, desfilando pelos circuitos Osmar (Campo Grande) e Dodô (Barra-Ondina). Atualmente, o grupo conta com cerca de quatro mil associados, todos homens.

Embora mantenha uma forte simbologia de paz e espiritualidade, inspirada nos ensinamentos de Mahatma Gandhi, o bloco sempre manteve sua estrutura fechada à presença feminina e, até então, à diversidade de identidades de gênero. Com a assinatura do TAC, a expectativa é que o Filhos de Gandhy avance em direção a uma cultura mais acolhedora e representativa.

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

POSTS RELACIONADOS

plugins premium WordPress
Ir para o conteúdo