Portal começou em 2007 com um objetivo: informar a comunidade de Paripe no Subúrbio de Salvador e hoje faz coberturas de grandes eventos no bairro

No coração do Subúrbio Ferroviário de Salvador, onde muitas vezes a grande mídia não chega, um grupo de comunicadores vem, há quase duas décadas, escrevendo outra narrativa sobre o seu território. O site Paripe.net, fundado em 2007, é um símbolo de uma comunicação pela e para a comunidade, hoje se estendendo com transmissão ao vivo através do Youtube e coberturas jornalísticas nos principais eventos do bairro.
Wagner Passos, um dos fundadores, afirmou que a história do veículo nasceu a partir da desinformação na comunidade. Ele conta que estava junto com o sócio, Elton Souza, em uma praça no bairro de Paripe, observando a correria de quem tentava pegar o trem da linha Pituba e o episódio serviu como motivação.“A gente viu que o povo aqui estava mal informado, as pessoas chegavam perguntando ‘que horas o trem vai sair? e o ônibus?’, foi por isso que pensamos em criar um site”.
A história do Paripe.net é também uma resposta direta à centralização da comunicação em Salvador. O que começou como uma ideia para informar sobre horários de trem e de feira, se expandiu para coberturas exclusivas de grandes eventos como o Carnaval de Paripe, o São João, e concursos de quadrilhas com transmissão ao vivo e interação do público: “Hoje a gente tem feito o maior investimento em transmissão de eventos. O zap não para, as redes sociais não param. Isso mostra que as pessoas confiam no nosso trabalho”, diz Wagner.
Acompanhando o dia de abertura do São João da Bahia em Paripe, ele conta que, diferente da cobertura tradicional das grandes emissoras, o veículo independente se orgulha de não noticiar violência ou ações policiais. Seu objetivo é destacar o que o Subúrbio tem de melhor: arte, cultura, eventos, personagens e histórias de vida que se perdem na narrativa dominante da criminalização da periferia. “Nosso lema é: a gente não grava violência. A gente quer mostrar para fora o que a gente tem de bom aqui dentro do subúrbio.”


Esse compromisso com uma narrativa positiva e plural atraiu, inclusive, atenção externa: “Recebi mensagem de repórter da Record que estava assistindo nossa transmissão. Isso mostra que, mesmo quem acha a gente pequeno lá fora, reconhece o nosso tamanho aqui dentro”.
A respeito dos desafios de se manter no jornalismo independente, Wagner Passos diz que a equipe é pequena, mas movida por uma crença firme: a de que é possível competir de igual para igual com grandes veículos. Com estrutura reduzida e orçamento limitado, a equipe se autodenomina “se vira nos 30”, desempenhando múltiplas funções para garantir a qualidade das coberturas: “Eu sou repórter, cinegrafista, editor… porque a gente não tem como pagar profissionais em cada área. Mas cada vez que terminamos uma cobertura e vemos os bares e restaurantes transmitindo o que fizemos, isso vale tudo”.
Além disso, o Paripe.Net também funciona como escola preparatória para jovens do bairro. Estagiários que passaram por lá hoje estão em grandes veículos como a Piatã FM, Jovem Pan e até na TV Bahia.

A importância do veículo, assim como o seu alcance de público, ultrapassa os limites de Paripe, chegando a outros bairros do Subúrbio de Salvador e da periferia da cidade. Em tempos em que o jornalismo comunitário se afirma como ferramenta de transformação social, o portal é prova concreta de que a descentralização da informação é um ato de cidadania:“A gente pode ser igual às grandes emissoras. Não é porque estamos no subúrbio que temos que abaixar a cabeça. Nosso objetivo é dizer: ‘cheguei, e posso mudar.’”
O site inspira, é um exemplo vivo do que acontece quando um território é olhado por quem o vive. E de como, com organização, afeto e persistência, a comunicação pode ser uma ponte entre o que a periferia é de fato e não o que dizem sobre ela.
Acompanhe o trabalho do portal pelo site www.paripe.net e pelas redes sociais, especialmente durante o período junino, quando o portal assume transmissões ao vivo dos principais eventos da região.