Fundador do Portal São João na Bahia celebra 11 anos do veículo e destaca importância da cultura junina

Jornalista por formação, com passagem por rádio, televisão, redações e assessorias de imprensa, Gabriel Carvalho encontrou no São João mais do que uma paixão: um propósito de vida. Aos 45 anos, ele comanda o Portal São João na Bahia, projeto que nasceu de uma paixão e se transformou em uma referência para os amantes da cultura junina no estado.
“Eu transformei a minha paixão pelo São João num negócio”, conta Gabriel. “Antes era um hobby ter um site falando de São João, cujo objetivo era estar próximo daqueles artistas que eu era fã. E de uns cinco anos para cá, esse projeto se tornou um negócio que eu faço com muita alegria”.
A transformação do hobby em negócio se deu de forma orgânica, impulsionada pela resposta do público e pelo apoio de patrocinadores já no primeiro ano. “As coisas foram acontecendo naturalmente. À medida que ia crescendo a demanda, a gente foi se profissionalizando. Hoje oferecemos várias possibilidades de conteúdo”.
Nascido em Salvador, mas com fortes laços afetivos com Fortaleza, cidade de sua família, Gabriel destaca como essas duas realidades ajudaram a moldar sua ligação com a festa. “Salvador é uma cidade festeira. A paixão pelas festas vem dessa relação com a cidade, que tem um carnaval muito grande e que, no passado, tinha um São João mais presente. Já Fortaleza é a maior produtora de forró do Brasil. Essa junção fez com que eu realmente me apaixonasse pelo forró e pelo São João”.
A ideia de compartilhar esse amor com o mundo surgiu quando ele deixou o setor público, onde trabalhava em uma repartição que organizava festejos juninos. Com a descontinuação de um antigo projeto da instituição, viu ali uma oportunidade de criar algo próprio. “Eu enxerguei uma chance de estar próximo aos artistas e de ter meu próprio veículo de comunicação. Assim, nasceu o site, em 2014”.

Desde então, o Portal São João na Bahia cresceu junto com o público que o acompanha. “Com a chegada de outras plataformas, como o WhatsApp e o Instagram, a gente foi crescendo cada vez mais e descobrindo que há um público muito grande que gosta de forró na Bahia, sobretudo aqui também em Salvador”, destaca. “A gente é um veículo forrozeiro que defende as tradições forrozeiras no São João e não abre mão disso”.
Gabriel explica que o diferencial do portal está na forma de cobertura. Ao contrário de outros veículos que se concentram nos palcos, ele aposta nas vivências. “Mostramos a decoração, a gastronomia, o sentir o São João. A gente curte o São João e filma isso, mostrando como é curtir o São João na Bahia”.
Ao longo dessa trajetória, Gabriel não esteve sozinho. “Ninguém faz nada sozinho na vida”, afirma. Ele conta com uma equipe dedicada, que pensa pautas, monitora redes e contribui com a cobertura das festas em diferentes cidades. “Durante o São João, contratamos mão de obra extra para ir às ruas e trazer o melhor dessas praças”.
Ao longo dos 11 anos do portal, Gabriel acompanhou de perto as mudanças no cenário das festas juninas. Para ele, embora o forró ainda seja o protagonista, há uma disputa cada vez maior com outros ritmos. “Há um movimento muito grande do lobby de outros gêneros, como o arrocha, o sertanejo e a axé music, que pressionam para ocupar espaço nas grandes festas juninas. Isso deixa muitos artistas de forró tristes e quem faz parte do movimento, um pouco chateado”.
Apesar desse cenário, Gabriel é otimista quanto ao futuro. Para ele, a profissionalização dos artistas do forró é essencial para que o gênero mantenha sua relevância. “O forró continua sendo o maior protagonista das festas juninas. Mas os forrozeiros também precisam se profissionalizar,no sentido de colocar sua carreira mais visível e batalhar por esses espaços em outros eventos, além do São João, para que possam se fortalecer também comercialmente e marcar seu território.”

Ele acredita que o retorno de grandes nomes às raízes do forró é um bom sinal. “A gente tem visto artistas como Wesley Safadão e Xand Avião voltando a fazer forró. Isso reverbera em outras atrações e ajuda as pessoas a se reconectarem com o gênero”.
“Isso é muito importante, reverbera no resto das atrações e as pessoas se reencontram com o forró. Isso aconteceu lá nos anos 2000, quando o Emanuel Gurgel fortaleceu muito a marca do Mastruz com Leite e das outras bandas que circundavam como se fossem o satélite do Mastruz. E isso pode voltar a acontecer.”
Para além da música, Gabriel vê o São João como uma celebração sensorial e identitária. “A essência do São João está em todos os sentidos: o paladar, com a gastronomia; o olfato, com o cheiro dos fogos; o visual, com as quadrilhas exuberantes; e o tato, com os elementos que fazem parte dessa cultura. O forró é a cara da resistência do nosso povo, que é sofrido, mas alegre”.
Para os próximos 11 anos, o desejo é de continuidade e impacto positivo. “Espero que a gente continue levando informação, entretendo e despertando paixões. Quando a gente desperta paixões no ser humano, é sinal de que está no caminho certo”. O Portal São João na Bahia, como define seu criador, é feito “com muito carinho, amor e dedicação” e, acima de tudo, é um projeto que busca celebrar “o lado bom de uma festa que a gente quer que permaneça no cotidiano das pessoas por muito e muito tempo”.