...

Portal UMBU

Feira Trans Mix & Naobin celebra empreendedorismo, arte e resistência no Pelourinho

Brenda Souza (Foto: Dois Terços), Brendie Hêth (Foto: Elane Anjos) e Senhora Mar (Foto: Spock/Marina Fernandez)

Nascida da necessidade de criar espaços seguros e inclusivos para pessoas trans e outros da comunidade LGBTQIA+, acontece neste sábado (31) a 6ª edição da Feira Trans Mix & Naobin, na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho. Com programação gratuita, o evento reunirá 14 expositores e 10 artistas LGBTRANS+ a partir das 10h.

Em entrevista ao Portal Umbu, Brenda Souza, 47, ativista e idealizadora do Coletivo Trans Mix, contou de onde surgiu a ideia para a criação do evento: “A Feira Trans Mix surgiu quando eu e outros colegas não conseguimos expor nossos trabalhos em outras feiras por conta dos nossos corpos. Então decidimos criar a nossa própria feira, para mostrar que existimos e podemos ocupar os mesmos espaços”.

A iniciativa se mostra como resistência e resposta à exclusão social enfrentada por pessoas trans que, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), são quase 4 milhões no Brasil. Segundo o Censo Trans, 71% são excluídas pelos familiares, 68% já sofreram violência policial e 79% são discriminadas ao buscar emprego.

Empreendedora e produtora cultural, Brenda relembrou a primeira edição da feira, realizada em 2023, também no Pelourinho, com pouco dinheiro, mas com apoios que foram fundamentais para ajudar o projeto a ocupar espaços e dar vez a artesãs e artistas plásticas. Para a 6ª edição, a iniciativa conta com a parceria inédita do Coletivo Naobin, fundado há três anos por Senhora Mar, artista, produtora cultural e Mestra em Cultura e Sociedade.

“O coletivo Naobin nasceu quando começamos a entender que a não-binariedade é um movimento político, além de uma identidade. Antes da colonização, éramos povos poligêneros”, explicou Senhora Mar. “Começamos com rodas de debate online na pandemia, depois passamos a fazer encontros de acolhimento em Salvador: encontros musicais, partilhas terapêuticas, rodas de conversa. Até bate-folha fizemos, trazendo esse resgate ancestral”.

“Conheci Brenda numa Feira Trans Mix, com meu brechó Brechó da Pombagira. Lembro que dancei, tocaram minhas músicas, e no outro ano me chamaram para abrir a feira. Foi lindo! […] Hoje estamos nessa parceria, aprendendo na prática, com coragem e experiência”, declarou a artista.

Curadoria diversa e representativa

Com um recorde de 96 inscrições para as 14 vagas de expositores, a curadoria buscou contemplar a diversidade racial, de gênero e de territorialidade. O número de pessoas inscritas surpreendeu Brenda Souza: “Nunca esperaria 96 corpos trans, travestis, homens trans se inscrevendo. Foi incrível e já estou pensando na próxima feira, quero encher o Largo da Mariquita”, revelou a idealizadora.

O processo de curadoria envolveu quatro pessoas e buscou equilibrar aspectos como originalidade, tempo de existência da marca, diversidade étnico-racial e inclusão de pessoas com deficiência. “Salvador é uma cidade preta e originária, e nosso projeto reflete isso. Tentamos contemplar pessoas indígenas, negras ou originárias”, destacou Senhora Mar.

Brendie Hêth, diretora geral da Feira Trans Mix & Naobin e educadora social, ressaltou o papel da curadoria para fortalecer empreendedores em diferentes estágios: “Levantamos critérios como ser uma pessoa LGBTRANS, tempo de negócio e desenvolvimento. Temos negócios com mais de um ano e outros com menos de seis meses, mas que já estão se desenvolvendo bastante. O cachê é de R$ 500, com ajuda de custo e almoço. Buscamos contemplar quem está começando, mas com responsabilidade e justiça”

Programação artística potente

Além dos expositores, a programação conta com apresentações de dez artistas LGBTRANS+, selecionados também sob critérios de diversidade e trajetória artística. O evento terá tradução em Libras e audiodescrição, promovendo acessibilidade.

“A curadoria artística foi pensada desde a escrita do projeto. Convidamos pessoas com trajetória incrível na cena de Salvador, todas pessoas trans, que já têm um currículo forte, mas ainda não conseguem se manter da arte”, afirmou Senhora Mar, que está entre os nomes confirmados nas apresentações. “Mesclamos nomes com visibilidade e quem está começando. Drags, dançarinos, travestis cantoras, DJs, até o primeiro paredão LGBT do Nordeste. Queremos furar bolhas, que públicos diversos se conheçam e fortaleçam a nossa base”.

Além da fundadora do Coletivo Naobin, estão entre as atrações estão nomes como Djeya Karabá Afefé, Maximu Máxima, A Deusa, Verenna Drag, Tecnoplanta, kaLunga kIng e Joa Assumpção.

“É muito importante trazer essa diversidade, principalmente trabalhando com público LGBTRANS. Já faço isso há algum tempo, tentando incluir artistas trans que não têm oportunidades”, pontuou Brendie. “Incluímos pessoas por áreas: DJs, performers, cantoras. Temos DJs pretas, pessoas vivendo com epilepsia, performers negras e travestis, pessoas não binárias com deficiência”, explicou a educadora social que garantiu que oferecer remuneração digna aos artistas foi uma prioridade. “O cachê está acima da média, o dobro ou triplo do que geralmente se paga. É muito significativo pagar essas pessoas de forma justa”.

Apesar das chuvas que caem na capital baiana desde o começo de maio, a expectativa para este sábado é a melhor possível, com a previsão de tempo estável para o dia. “Estou muito feliz! Voltar para onde tudo começou, ver tudo organizado, lindo, para o povo ver e participar”, disse Brenda Souza.

“É um momento de aquilombamento, de reunir cerca de 50 pessoas envolvidas, todas que se admiram. É uma festa para nós, mas também para mostrar a nossa vitória com o edital. Vai ser lindo!”, adiantou Senhora Mar.

Brendie convida: “Queremos fortalecer essa identidade, ocupar esse espaço e mostrar uma nova perspectiva aqui em Salvador, para além da nossa bolha”.

O Projeto Feira Trans Mix & Naobin foi contemplado pelo edital Gregórios – Ano IV com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), Ministério da Cultura, Governo Federal.

Sobre Brenda Souza

Brenda Souza é uma travesti de 47 anos, preta, empreendedora, produtora cultural e ativista LGBTRANS+. Brenda ressignificou sua jornada através da educação, conhecimento e poder em articulações sociais. Sua luta é por equidade, qualidade de vida e dignidade para a população negra, LGBTRANS+ e diversidades.

Sobre Senhora Mar

Senhora Mar é a Diretora de Comunicação da Feira Trans Mix e Naobin. Produtora cultural, Mestra em Cultura e Sociedade, Trava Contra-Colonial e Pombagira estradeira, Senhora Mar manifesta a luta pela visibilidade trans negra através da arte e política.

Sobre Brendie Hêth

Brenddáh Hudson, mais conhecida como “Brendie Hêth, a Trans de Negócios”, é Diretora Geral da Feira Trans Mix e Naobin. Pessoa trans não binária, preta, periférica, nordestina e neurodiversa (TDAH), é formada em Tecnologia e pós-graduanda em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica (IFBA). Atua como empreendedora, UX Designer e coordenadora de projetos com foco em experiências inclusivas. É também consultora em diversidade e integra a coordenação do Fórum Trans e Travesti da Bahia (Fórum TT).

Serviço

Data: 31 de maio
Horário: das 10h às 18h
Local: Praça da Cruz Caída, Pelourinho – Salvador (BA)
Entrada gratuita

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

POSTS RELACIONADOS

plugins premium WordPress
Ir para o conteúdo