2024, Festival de Veneza. Ainda Estou Aqui é aplaudido por onze minutos e conquista o prêmio de Melhor Roteiro. Ali começou sua trajetória vitoriosa até o Oscar 2025, onde venceu na categoria de Melhor Filme Internacional.
Corta para maio de 2025, Festival de Cannes. O Agente Secreto recebe treze minutos de aplausos e conquista não apenas uma, mas duas das categorias mais prestigiadas do festival: Melhor Ator e Melhor Direção. Essa é uma conquista rara, já que Cannes dificilmente premia o mesmo filme com duas Palmas. Além disso, a obra de Kleber Mendonça Filho levou os prêmios da crítica (Fipresci) e de arte (Art et Essai).
O cinema brasileiro está de volta aos holofotes internacionais, e a população já sonha com o Oscar 2026. É curioso como essa premiação estadunidense exerce tanto fascínio no imaginário popular. Fernanda Torres relatou que, quando ganhou a Palma de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 1986, seu tio comentou: “O próximo é o Oscar”. Agora, muitos brasileiros sonham com o mesmo destino para Wagner Moura, Kleber Mendonça Filho e a equipe de O Agente Secreto. Mas, acredite: o melhor prêmio já é nosso.
O Festival de Cannes consolidou-se como o evento mais importante do cinema mundial. Ele dita tendências, está nos sonhos de todos os cineastas, confere prestígio e garante lugar na história. Não por acaso, acontece na França, berço do cinema. Desde sua criação, o Brasil conquistou apenas uma Palma de Ouro (premiação principal), com O Pagador de Promessas, em 1962. Depois disso, Glauber Rocha foi premiado como Melhor Diretor, Fernanda Torres e Sandra Corveloni como Melhor Atriz, Bacurau recebeu o Prêmio Especial do Júri, e outras produções, como A Vida Invisível e Rodrigo Santoro (Un Certain Regard e Melhor Ator Revelação, respectivamente), foram reconhecidas em categorias paralelas.
Embora não pareça muito, o respeito pelo cinema brasileiro em Cannes é imenso. Este ano, fomos escolhidos como país homenageado, um reconhecimento à contribuição artística e cultural do Brasil ao cinema internacional. Isso só reforça a força da nossa produção. O país vive um momento extremamente rico no cinema. Estão em cartaz grandes obras, como Manas, Homem com H, Vírginia e Adelaide, apenas para citar os lançamentos mais recentes. É emocionante testemunhar tanta diversidade e qualidade nas telas.
O sucesso de Kleber Mendonça Filho merece destaque. O diretor pernambucano iniciou sua carreira como crítico e realizou curtas marcantes, como Recife Frio e Vinil Verde. Aos poucos, conquistou o público com longas de grande qualidade, como O Som Ao Redor, Aquarius e Bacurau, que já são referência. Não por acaso, a sessão especial de O Som Ao Redor no Glauber Rocha, em abril, estava lotada. Quando o diretor perguntou quem assistia à obra pela primeira vez, ninguém levantou a mão.
Outro grande destaque da premiação é Wagner Moura, um ícone, especialmente para nós, baianos. O ator começou no teatro, ganhou notoriedade na televisão e construiu uma carreira sólida no cinema, tanto no Brasil quanto em Hollywood. Ele transita facilmente entre comédia e drama, eternizando papéis como Capitão Nascimento, encarando o desafio de viver Pablo Escobar e se destacando em obras diversas como recentemente no filme Guerra Civil.
Prêmios são importantes, mas o que nos enche de orgulho é ver tanto talento em prol da arte brasileira: contar nossas histórias, levar nossa cultura a novos públicos, nos representar em tela e dialogar com o mundo. Isso é a expressão máxima do sucesso. É ver salas lotadas para filmes como Homem com H e a expectativa pela estreia de O Agente Secreto. É perceber que nosso cinema virou notícia e que as pessoas se importam cada vez mais com isso.
É tempo de celebrar. E que venham muitos outros sucessos.
OPINIÃO
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