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FELIS 2025 reúne mais de 15 mil pessoas em Serrinha e movimenta literatura, ancestralidade e educação no Sisal

Ana Maria Machado, Vovó Cici, MV Bill, Itamar Vieira e Bule Bule: evento reúne grandes nomes e afirma protagonismo da juventude e da cultura negra no sertão baiano

Foto: JNeri

Serrinha viveu dias de encontro, memória, livros e afetos. De 06 a 10 de maio, a cidade foi tomada pela segunda edição da Feira Literária Internacional de Serrinha – FELIS, que reuniu mais de 15 mil pessoas ao longo da programação. Foram mais de 100 atividades gratuitas, com participação intensa de crianças, jovens, adultos e idosos em feiras de livros, contações de histórias, mesas de conversa, apresentações culturais e rodas de saberes. Com impacto direto estimado em R$ 3 milhões na economia local…

Com realização da Filarmônica 30 de Junho, do NACOM e do projeto Pensar Serrinha 150 anos, a FELIS contou com apoio da UNEB, da Prefeitura de Serrinha e do Governo do Estado da Bahia, por meio da Fundação Pedro Calmon, da Secretaria de Cultura e da Secretaria de Educação, como parte do Programa Bahia Literária, que vem descentralizando e fortalecendo feiras literárias por todo o estado.

“A FELIS é um exemplo potente do que defendemos com o Programa Bahia Literária: feiras que fortalecem o livro, a leitura e o território. Em Serrinha, vimos a palavra circular entre escolas, praças, bibliotecas, terreiros e palcos. Ver mais de três mil pessoas por dia participando de uma feira literária no interior é um indicativo de que a Bahia segue na vanguarda das políticas públicas do livro no Brasil”, destacou Sandro Magalhães, diretor-geral da Fundação Pedro Calmon.

A Feira é realizada a cada dois anos e, em 2025, encerrou sua segunda edição com a certeza de que a palavra tem raízes profundas no território. Esta edição também marcou a despedida do jornalista e escritor Ricardo Ishmael da curadoria do evento, após dois ciclos de dedicação intensa, escuta sensível e construção coletiva. “Sua condução firme e afetiva deixa um legado de potência literária, representatividade e valorização da cultura sertaneja e afro-brasileira”, destacou o diretor geral da FPC, ao parabenizar Ricardo pelo evento. Ele ainda concluir “A FELIS segue como um marco no calendário cultural da Bahia — e já deixa saudade até a próxima edição”, conclui Sandro.

Foto: JNeri
Palavras que transformam – Um resumo dia a dia

A terça-feira (06) marcou a abertura com MV Bill, rapper, escritor e ativista, na mesa “A vida nos ensina a caminhar – Memórias construindo futuros possíveis”. Diante de uma multidão, Bill emocionou ao contar sua trajetória com a CUFA, sua relação com a literatura e o quanto escrever também é um ato político. Segundo o artista, um dos aprendizados mais importantes veio já no processo de composição do livro. “Escrevi durante a pandemia e a ideia original era lançar um livro que contasse as minhas histórias de sucesso, os troféus, as conquistas. Mas como eu estava vivendo aquele momento tão delicado, de introspecção, acabei mudando o foco. Decidi escrever sobre as vezes em que eu não me dei tão bem, mas que me ensinaram muito. São essas experiências que, de alguma forma, moldaram quem eu sou hoje”, confessou Mv Bill.

Foto: JNeri

“Ver MV Bill em Serrinha, abrindo a FELIS, foi uma afirmação de que a literatura das periferias também tem lugar nas feiras. Foi lindo ver a juventude atenta, refletindo sobre a vida e o papel da palavra”, afirmou a professora Tatiane Souza, presente na abertura.

Na quarta-feira (07), a Tenda Maria Felipa recebeu o debate “Falsolatria – fake news e o culto à mentira”, com Jean Wyllys, Keila Simpson e Jarele Rocha, que discutiram desinformação, violência política e o poder da palavra em tempos de crise. Simultaneamente, a Tenda Maria Firmina recebeu estudantes das redes municipal e estadual para apresentações de poesia, teatro e leituras encenadas. “Ver nossos alunos, recitando literatura com brilho nos olhos, foi um dos momentos mais emocionantes da FELIS”, destacou Isabelle Sanches, diretora da UNEB/Campus XI. O dia ainda recebeu e apresentou a contação de histórias da encantadora Vovó Cici, que trouxe cantigas em iorubá e ensinamentos ancestrais.

Na quinta-feira (08), o cordel e a oralidade tomaram conta do espaço com a presença do mestre Bule-Bule, em diálogo com Guilherme Machado, abordando o sisal, o sertão e a tradição popular. O dia também contou com performances do SLAM das Minas, contações na FELISINHA e o pré-lançamento do livro Quinca no Mundo da Lua, do curador Ricardo Ishmael.

“A FELIS é uma resposta do interior da Bahia ao apagamento histórico dos nossos autores, das nossas histórias e da nossa gente. É uma festa do livro que nasce da escuta e da partilha. Ver crianças e jovens emocionados é a maior prova de que a palavra transforma territórios”, refletiu Ishmael.

A sexta-feira (09) foi marcada pela presença maciça da juventude. Pela manhã, a mesa “Entre elas – Palavra (en)cantada”, com Luana Souza, Luana Assis e Isabele, falou sobre literatura, música e memória. À tarde, a Tenda foi tomada pela espiritualidade com a mesa “Falo como sambo”, com Calila Mercês e George Roberto dos Santos, seguida por uma conversa sobre imagem, memória e música com a fotógrafa Thereza Eugênia.

Foto: JNeri

No sábado (10), o dia começou com uma longa fila se formou para assistir ao escritor Itamar Vieira Junior, que lotou a Tenda para a mesa “A terra que nos sustenta”. “Nunca vi uma fila assim para ouvir um escritor no interior da Bahia. Isso é a revolução da palavra acontecendo em tempo real”, disse o estudante Leandro Araújo, do 3º ano da rede estadual.

À tarde, a jornalista Aline Midlej protagonizou o encerramento com a mesa “Resgatando identidades”, em que emocionou o público com uma fala sobre dignidade, comunicação e o papel da juventude negra na construção de futuros. O show de encerramento com AfroJamaica e Ilê Aiyê, na Praça Morena Bela, foi a consagração da festa literária em grande estilo.

A FELIS também foi marcada por momentos de emoção e reencontro com o território. O imortal da Academia Brasileira de Letras Antônio Torres, natural de Sátiro Dias, município vizinho, compartilhou com o público suas lembranças do sertão e a importância das narrativas de pertencimento: “Voltar para cá, depois de uma vida dedicada à literatura, é como voltar ao lugar onde tudo começou. Essa estrada, essa paisagem… tudo me devolve à memória da infância e da palavra como semente”.

Foto: JNeri

Outro momento marcante foi a mesa “Resista, menina: a palavra que empodera”, com a jornalista, escritora e atriz Maíra Azevedo (Tia Má), que falou sobre ancestralidade, infância e representatividade negra na literatura. “Eu escrevo para a criança que fui. Para dizer a ela que ela era bonita, mesmo quando o mundo insistia em calar essa beleza. Participar da FELIS é mais que um convite, é uma convocação para contar nossas histórias com dignidade e afeto”.

Educação e juventude: pilares da FELIS

Com a participação de mais de 20 escolas públicas, a FELIS foi marcada por caravanas escolares, feiras de leitura em sala de aula, dramatizações, oficinas e contações infantis. A programação da FELISINHA ofereceu contação de histórias, mediações lúdicas e atividades com autores e autoras que dialogam com o universo das crianças.

“A FELIS mostrou que Serrinha valoriza a educação, a leitura e a palavra. Cada estudante que pisou nesse evento saiu transformado. A cidade abraçou a literatura como nunca”, disse emocionada a coordenadora pedagógica Márcia Nogueira, da rede municipal.

Alex Menezes, Secretário de Saúde do município, também destacou o impacto do evento: “Estar aqui, neste evento, é também cuidar da saúde do nosso povo. A FELIS é sobre pertencimento, cultura e bem-estar coletivo”.

A Feira Literária Internacional de Serrinha (FELIS) se consolida como uma das principais iniciativas de fomento à leitura no interior da Bahia. Com crescimento de público, fortalecimento institucional e impacto direto na economia local, a edição de 2025 reafirmou o potencial do evento como vetor de desenvolvimento cultural e social no território do sisal. Encerrando sua segunda edição, a FELIS projeta novos caminhos para a próxima realização, em 2027, mantendo o compromisso com a democratização do acesso à literatura, o protagonismo das juventudes e a valorização das identidades regionais.

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