
Buscando ser Patrimônio Imaterial da Bahia como bloco pioneiro no bairro do Garcia, em Salvador, a Mudança do Garcia chegou em 2025 com apoio da Butterfly, patrocínio da Bahiagás e apoio do Governo do Estado da Bahia e CUT Bahia, com foliões leais e irreverentes durante todo o percurso. A Mudança do Garcia surgiu em 1930, criada por três músicos da Polícia Militar da época: Jaime Maromba, Zequinha e Candinho.
Inicialmente, o cortejo foi chamado de “Arranca Tudo”, uma referência às condições precárias das ruas do bairro do Garcia. Posteriormente, o nome mudou para Faxina do Garcia e, com a urbanização do bairro, virou Mudança do Garcia. O primeiro registro de sua saída pelas ruas do Garcia data de 1926, sendo possivelmente o bloco mais antigo da cidade de Salvador ainda em atividade.
O bloco sem cordas sai sempre na segunda de Carnaval e é conhecido pela presença marcante de protestos políticos em cartazes e fantasias irreverentes. Em 2025, contou com as apresentações da Banda Frevância Elétrica e da Banda Samba de Farofa, garantindo um repertório diversificado.
Para Paulo Brito, presidente do Sindicato dos Vigilantes, uma categoria de 32 mil trabalhadores e trabalhadoras no Estado da Bahia, a Mudança do Garcia nada mais é que um dia de protesto. Ele afirmou em entrevista ao portal Umbu que os trabalhadores estavam ali para protestar, trazer suas reivindicações e cobrar das autoridades responsáveis e de seus patrões o respeito à dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras.
“Eu tomei conhecimento hoje, durante o percurso, que está em processo de verificação para que a Mudança do Garcia se torne Patrimônio Histórico Imaterial. Isso é importante para os trabalhadores e para todos aqueles que iniciaram tudo há 95 anos. Esperamos que dê certo e que em 2026 possamos estar aqui para, além de protestar, comemorar esse feito histórico que diz respeito à Mudança do Garcia”, afirmou Paulo, do Sindvigilantes Bahia.
Quem também fez parte do Bloco da Mudança do Garcia 2025 foi a cantora, escritora e compositora Claudya Costta, uma das atrações do tradicional bloco, onde prestou uma homenagem especial a Preta Gil nesta segunda-feira de Carnaval, no Circuito Osmar (Campo Grande). Além disso, a artista trouxe uma mensagem de solidariedade, incentivando doações de sangue para o Hospital Aristides Maltez – braço operacional da Liga Bahiana Contra o Câncer (LBCC), uma instituição filantrópica sem fins lucrativos, referência no atendimento oncológico para a população carente da Bahia.
O trajeto por onde passa a tradicional manifestação popular do Carnaval de Salvador, conhecida como Mudança do Garcia, passou a se chamar Circuito Riachão, através de um decreto do ex-prefeito ACM Neto, oficializando a mudança do título do cortejo, que, desde 2014, atende pelo nome do artista, de acordo com autorização do Conselho Municipal do Carnaval.
Leninha Valente, presidente da Central Única dos Trabalhadores da Bahia (CUT), marca presença todos os anos na Mudança do Garcia, em Salvador.
“A CUT, com seus sindicatos filiados, trouxe a união da luta dos trabalhadores. Foi muito bonito, foi muito lindo, pois conseguimos colocar o maior número de trabalhadores e trabalhadoras com suas pautas neste percurso entre o Garcia e o Campo Grande. A Mudança do Garcia, para nós, é o momento de resistência. É um momento cultural muito importante, já que traz a história desse bairro e fortalece essa luta do dia a dia”, vibrou a presidente da CUT.
Resistência
Segundo Leninha Valente, estar na Mudança do Garcia é comemorar as vitórias e trazer as pautas dos trabalhadores, que são intermináveis, já que, quando se consegue uma vitória, surge outro embate, e esses temas vão sendo pautados nas ruas do cortejo todos os anos. Quando se consegue entrar no circuito da avenida, é uma vitória, e ela espera que em 2026 o espaço seja dos trabalhadores.
Reivindicando direitos humanos e com palavras de ordem contra a anistia da corrupção política no Brasil, a Mudança do Garcia foi ocupada por famílias inteiras de foliões, além de políticos da gestão municipal, estadual e federal.
Já o ex-vereador de Salvador Marcos Mendes, membro do bloco Filhos e Filhas de Marx, afirma que o Carnaval de Salvador passa pela Mudança do Garcia, pois ela representa independência, autonomia e identidade, de forma que o povo pode se manifestar verdadeiramente sem “máscaras” e sem nada mais.
“A Mudança do Garcia se transformar em Patrimônio Imaterial é uma realidade que já deveria ter acontecido. Nós, que somos do grupo ‘Filhos e Filhas de Marx’, fazemos o protesto real em benefício do povo baiano. Acreditamos que, dentro de um prazo o mais rápido possível, ela será reconhecida como patrimônio não só do povo baiano, mas também como patrimônio cultural nacional e mundial”, vibrou Marcos Mendes.
Surgido no Carnaval de 2017, com homenagem ao centenário da Revolução Russa, o bloco atua através do método da “boemia crítica”, na batalha de ideias contra o capitalismo e em defesa da alternativa comunista (comunismo como ponto de chegada da transição socialista). Na programação de atividades deste bloco, busca-se combinar debates sobre temas históricos, políticos e culturais com manifestações artísticas e muita boemia.
Escrito por Patrícia Bernardes Sousa, jornalista e mobilizadora de Projetos de Impacto Social na Bahia.