
O projeto “Pipoca das Pretas” chega a sua segunda edição no Carnaval de Salvador 2025, tendo como base a ancestralidade e a musicalidade de mulheres pretas que são referência na Axé Music em seus 40 anos de resistência. Reunidas na tarde desta terça-feira (25), durante a coletiva de imprensa nas instalações da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) no Pelourinho, nomes de destaque da música baiana como Graça Onasilê, Mariene de Castro, Marinez de Jesus, Cláudya Costta e as integrantes da banda Yayá Muxima deram o tom do que promete ser um desfile de celebração da luta pela igualdade de direitos para todas as mulheres do cenário musical e cultural do Brasil. Liderando as homenagens, a cantora baiana Ludmillah Anjos afirma que o “Trio Pipoca das Pretas” ainda terá como integrantes dessa grande festa as cantoras baianas Majur, Savannah Lima, Larissa Luz, Márcia Short.
“Estou aqui agradecendo a esse bloco Pipoca das Pretas por esta homenagem que estão fazendo por conta da minha história, pelo meu trabalho, pelo reconhecimento da luta pela qual eu passei para estarmos aqui hoje. Creio ser gratificante hoje estarmos aqui reunidas hoje nesta causa, nesta justa causa: a união da nação negra. Temos que nos unir independente de nossos gostos pessoais a nossa união tem que prevalecer”, afirmou a ex- integrante da Banda Reflexos, Marinez de Jesus.
Quem também falou da importância dessa segunda edição do “Trio Pipoca das Pretas” foi a baiana Graça Onasilê, cantora do Ilê, a primeira mulher a comandar a ala de canto do bloco afro Ilê Aiyê que convocou publicamente todas as pretas do Carnaval de Salvador a participar do desfile sem cordas no Circuito Osmar (Campo Grande) celebrando e mostrando a força de todas as mulheres cantoras e compositoras que fazem parte deste legado dos 40 anos da axé music.
Natural de Salvador, a cantora e escritora baiana Cláudya Costta falou durante a coletiva de imprensa sobre a importância da música para sua identidade racial e sua construção intelectual enquanto mulher preta em Salvador.
“Estou chegando agora nesse movimento lindo chamado Pipoca das Pretas e para além das minhas vivências no Cortejo Afro, a voz de Marinez de Jesus é uma referência musical pra mim. Aprendi sobre a negritude através das músicas dos blocos afros e sobre conscientização. Vim de uma família evangélica e que eu não tinha essa representatividade. Cansei de escutar que toda a nossa cultura musical e ancestral ‘era coisa de demônio’, mas não tem jeito minha gente. Estas coisas estão escritas no nosso DNA e nos resgata, nos puxa. Hoje eu estou aqui, sou a única da minha família que levanta essa bandeira da ancestralidade e da música preta e durante muitos anos ficamos à margem, colocadas em escanteio só assistindo outras pessoas se apropriarem do que é nosso”, finalizou Cláudya.
Mariene de Castro, cantora, intérprete e compositora, falou da alegria de estar no Trio Pipoca das Pretas e reverenciou a sua ancestralidade citando um momento de angústia profissional e pessoal onde veio a sua mente a imagem da escrava Anastácia onde ela estava com uma mordaça e ela lembrou a todas as mulheres pretas presentes que um dos enredos da orixá Oxum é que ela come o feitiço e como devemos ser fortes a mastigar essa mordaça de silenciamento e lembrarmos que nascemos alforriadas pelas nossas ancestrais. Para a cantora baiana, somos mulheres pretas livres e inegociáveis.
A deputada estadual Olívia Santana falou da sua alegria em meio a convocação das cantoras Ludmillah Anjos e Viviam Caroline ao recebê-las na Assembleia Legislativa da Bahia e prontamente convocar também a secretária Ângela Guimarães para que juntas unissem todos os esforços possíveis para que o “Trio Pipoca das Pretas” chegasse às ruas do Carnaval de Salvador 2025.
“É muito difícil para as artistas negras serem contratadas, ter um cachê respeitoso e claro, levando essa pauta pra Sepromi, a nossa secretária Ângela escancarou as portas para poder apoiar esse projeto. Em 2024 foi bem difícil, mas saiu o Trio Pipoca das Pretas. Em 2025 conseguimos sensibilizar a Caixa Econômica Federal que nos enviou a sua representante direto de Brasília, para ver e sentir de perto esta experiência que é o Carnaval de Salvador e, desde já, agradecemos a todas as instituições que estão junto com a gente esse ano. ‘Uma sobe e puxa a outra’ é o lema do nosso mandato na Assembleia Legislativa da Bahia”, finalizou Olívia.
A Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), local escolhido para a coletiva de imprensa de lançamento do “ Trio Pipoca das Pretas” em 2025 , nasceu em 16 de setembro de 1832, batizada com verniz religioso de Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos. Atualmente, presidido por Lígia Margarida Gomes, a SPD se destaca por guardar a história de sobrevivência dos negros. Lígia é a primeira mulher eleita presidente da associação em toda a história do casarão.
“Completamos este ano 192 anos de história, de acolhimento e resgate do povo preto. Acolher o lançamento do projeto Trio Pipoca das Pretas é uma honra, um prazer e é resgatar a nossa história, pois é isso que nós membros da SPD buscamos fazer todos os dias, que é fortalecer os projetos de nosso povo“, afirmou Lígia.
A secretária Ângela Guimarães deixou claro que a preparação para o Carnaval de Salvador começa muitos meses antes da folia momesca ser iniciada. No caso da Sepromi, são desenvolvidas as campanhas de combate ao Racismo e a Intolerância Religiosa em todas as festas populares, começando na Festa de Santa Bárbara e culminando no Carnaval da capital baiana. Esse ano em específico, a secretária Ângela explicou que foi realizado o Evento Afro Coolab de Verão priorizando os empreendedores e empreendoras pretas de Salvador e Região Metropolitana tudo isso como preparação para a maior festa popular do planeta que é o nosso carnaval.
“Agora no Carnaval estamos com a campanha ‘Com racismo não tem folia’ com equipes volantes em todos os circuitos oficiais da festa momesca, nos bairros e em 6 municípios do interior da Bahia. E como tradição já que é o segundo ano, estamos com o Trio Pipoca das Pretas celebrando as vozes das mulheres negras nestes 40 anos de Axé Music”, vibrou a secretária da Sepromi .
Uma realização da Rebú Produções, o Trio conta com patrocínio da Caixa Econômica Federal, do Governo do Estado da Bahia – por meio da Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia (Sufotur), Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (SETUR) e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi) – e da Bahiagás, com o apoio do Sindicato dos Bancários da Bahia e da UNEGRO.
Texto por Patrícia Bernardes Sousa