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Eleições em Salvador: Que tiro foi esse?

Foto: Antonio Queirós

O resultado das eleições na cidade de Salvador deixou a esquerda soteropolitana, totalmente atordoada. Até porque, não foi apenas uma derrota eleitoral, mas sim uma fragorosa derrota política. Os 79% conquistados pelo Prefeito atual, sinalizam um duro recado da população para o discurso e a prática da esquerda na cidade. 

O baque maior ocorreu no PT, que foi quase que dizimado na sua representação na Câmara Municipal. Mas não só. A meu ver, perdeu a esquerda como um todo e os setores mais vulneráveis da população.

Um sinal claro neste sentido é que, apesar de Salvador ser a cidade com a maior população negra do Brasil e ter um movimento negro forte e uma cultura negra hegemônica, a representação negra na Câmara de Vereadores também sofreu um baque grande. 

Houve uma redução de 30 para 22 vereadores/as negros/as, cuja maioria era das áreas populares. 

Cientistas políticos e lideranças partidárias estão se debruçando de maneira frenética sobre o tema. Razões das mais diversas têm sido identificadas: Sequestro do Fundo Eleitoral pelos detentores de mandatos, manipulação das emendas parlamentares via orçamento secreto, descolamento da esquerda do povão e das suas demandas, excesso de identitarismo, além do uso escancarado das igrejas evangélicas no processo eleitoral.   

Até mesmo o Presidente Lula chamou a atenção para o naufrágio da esquerda no país e em particular do PT, pois o fenômeno não ocorreu apenas em Salvador, afirmando que “não basta apenas ter características como ser negro, mulher ou indígena para ser candidato”. 

Na verdade, o desastre de 2024 acende o sinal amarelo para 2026, caso não sejam adotadas as medidas necessárias para a superação do desgaste. 

Mas apesar de tudo, há sinais alvissareiros na Câmara Municipal de Salvador. Sinais que podem simbolizar novos caminhos, caso as lições do último dia 06 de outubro sejam devidamente acolhidas pela esquerda. 

A reeleição de Silvio Humberto, Marta Rodrigues e Augusto Vasconcelos, juntamente com o retorno de Aladilce e a chegada de Hamilton Assis e Eliete Paraguaçu revelam não só a resiliência da luta pela promoção da igualdade racial em nossa cidade, como também a ampliação das responsabilidades desses novos edis na recomposição da esquerda na cidade. 

E para tanto, não bastará apenas a crítica ao modus operandi dos velhos caciques, mas também inovar e ampliar o diálogo com a cidade como um todo, em particular a população pobre.

Raça, Gênero, Religiosidade, Meio Ambiente, precisam estar diretamente vinculadas a melhoria das condições de vida da população. Precisam ser parte do cardápio, onde a melhoria do transporte, do sistema de saúde, da educação, da moradia e da geração de emprego e renda, esteja presente.

Em outras palavras, sem comida na mesa, casa para morar, escola para a nossa juventude estudar e dinheiro para o nosso povo ter dignidade, a pauta identitária terá muito pouca serventia. 

Toca a zabumba que a terra é nossa! 

OPINIÃO

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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Walmir França Santos Kitekuê
Walmir França Santos Kitekuê
1 dia atrás

Excelente artigo Mestre Zulu, você teve o olho de águia, nessa sua análise.

Eduardo Almeida
Eduardo Almeida
1 dia atrás

Excelente! Vamos acordar!! AUTOCRÍTICA criteriosa já!!

Elba Matos
Elba Matos
1 dia atrás

Muito pertinente a reflexão!

Filipe Cavalieri
Filipe Cavalieri
1 dia atrás

Bom texto. A realidade é esta. Faltou educação educação política durante os mandatos do PT.

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