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“Eu canto porque eu preciso”, conta Viviane Pitaya, cantora e idealizadora do festival Frequências Preciosas

Evento acontece neste sábado (28), a partir das 16h na Praça dos Coqueiros, em Piatã

Foto: Reprodução

Salvador será palco da primeira edição de um festival com line-up 100% de mulheres negras e indígenas. O festival Frequências Preciosas acontece neste sábado (28), a partir das 16h, na Praça dos Coqueiros de Piatã, em Salvador. A programação do festival reúne nomes de artistas da nova cena musical como Beatriz Tuxá, Iuna Falcão, Lunna Montty, Miss Tacacá, Jôh Ras, Viviane Pitaya e Jéssica Caitano. O evento, que é aberto ao público, conta com cinco apresentações.

O projeto tem patrocínio da Natura Musical e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda. O evento busca ser um lugar de promoção da música brasileira fora do mainstream e uma oportunidade enriquecedora para o público valorizar o trabalho artístico de pessoas historicamente invisibilizadas.

Idealizado pela cantora e produtora cultural Viviane Pitaya, o Frequências Preciosas traz em seu line up artistas do Norte e Nordeste, destacando talentos mapeados pelo projeto “Cartografia de Cantoras Negras e Indígenas da Bahia”. O projeto se caracteriza como um espaço de resistência, cumprindo uma relevante função de divulgar novas artistas independentes, principalmente em regiões como o Norte e o Nordeste. Além disso, o mapeamento de artistas reafirma a força cultural dessas localidades, contribuindo para uma valorização de identidades e expressões culturais típicas e locais.

Nascido das dificuldades enfrentadas por Viviane – artista negra e periférica – em se inserir nos palcos e espaços culturais, o Festival aposta na apresentação de cinco new faces da música, destacando mulheres negras e indígenas do Norte e Nordeste do Brasil. Com shows abertos ao público, o Festival promete contribuir com a cena musical baiana e oferecer uma representação vibrante e autêntica das vozes negras e indígenas da região.

“O festival Frequências Preciosas nasceu de uma vontade minha de cantar e difundir meus trabalhos, só que eu demorei um pouco para me entender como cantora e compositora. Eu vim do teatro, quando eu comecei a produzir minhas músicas para lançar, chegou a pandemia e eu percebi que eu não conhecia muito desse circuito. Só tinha um desejo, um sonho de uma boa pisciana com cinco planetas em peixes, como eu sou, de cantar e viajar o mundo cantando”, contou Viviane Pitaya.

O projeto nasceu em 2020, com o levantamento inicial de mais de 500 cantoras negras e indígenas feito por Pitaya. Posteriormente, a pesquisadora Júlia Salgado se juntou ao projeto, realizando a pesquisa com o recorte das artistas do estado da Bahia. “Fui trabalhando e o meu desejo de fazer mais ações foi aumentando. Entrei em acelerações, trabalhei muito o dia inteiro, fiquei com a pálpebra tremendo de tanta coisa que eu comecei a acumular, de informações dessas preciosas para poder promover elas”, revelou a idealizadora.

“A Raína Biriba, eu conheci no movimento chamado ‘Receba’, de Salvador, num grupo do WhatsApp que fazia reuniões virtuais com frequência para encontrar soluções para a cultura naquele período. Eu compartilhei esse projeto e ela [Raína Biriba] se juntou, conseguindo executar o primeiro congresso, nossa primeira ação, através do edital Aldir Blanc. Depois da pandemia, a gente fez um sarau no Rio, em São Paulo e em Salvador”, complementa.

A cartografia de artistas indígenas e negras deu origem à plataforma Frequências Preciosas, que hoje conta com mais de 150 cadastros mapeados e atua em difusão, formação, pesquisa e inovação, tendo encontrado artistas em 49 cidades e 11 estados brasileiros. A plataforma recebeu prêmios e reconhecimento, incluindo o Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas de Salvador.

“Nessa plataforma que a gente tem, frequenciaspreciosas.com.br, toda a cantora e compositora negra ou indígena pode se cadastrar. Ela vai ter um perfil de domínio que ela pode editar e usar a nossa plataforma para poder divulgar seus trabalhos e promovê-lo”, explicou Viviane.

“O site tem um espaço reservado para as Preciosas. Há um catálogo, um mapa com vários pontinhos no Brasil. Temos materiais no Spotify, no YouTube, clipes e tudo mais como manda o figurino. E aí o pós-venda, a gente vai ter material durante o festival também”, disse, contando ainda que o Instagram do festival colabora para a divulgação das artistas.

Diversidade na música

Mesmo com os avanços que os grupos minorizados como a população indígena e negra tem feito nos últimos anos, os desafios ainda estão postos na mesa. Um reflexo disso são os festivais de música que ainda contam com uma line-up pouco diversificada. Com o objetivo de atenuar essa desigualdade, o Festival Frequências Preciosas vêm para colocar o bloco delas na rua.

“Nós [artistas] precisamos de espaços e de políticas públicas para desenvolver iniciativas assim como a nossa, que vem para agregar, para fortalecer, para a gente estar lutando também em prol do crescimento e do desenvolvimento dessas cantoras, para que elas possam viver de música. Eu não vivo de música. Nunca me apresentei em um festival, eu tive que criar um festival para poder cantar nele”, afirmou Pitaya.

Foto: Divulgação

Para Viviane, é fundamental que esses eventos adquiram consciência de incluir em suas line-up artistas que estão fora do mainstream. “Talvez não seja interessante para todos os festivais, mas um dos focos do nosso festival é esse: abraçar essas artistas que não estão no mainstream e que são potências preciosas. Eu canto porque eu preciso, se eu não canto, se eu não escrevo, eu fico triste, doente, depressiva. A arte é minha cachaça, é uma missão para mim”, continua Viviane.

Com uma programação 100% feminina e feita por mulheres negras e indígenas, Viviane Pitaya explicou sobre o processo de curadoria entre as artistas selecionadas para se apresentarem no festival Frequências Preciosas. “A nossa curadoria justamente contempla diferentes preciosas com grandes potências espalhadas pelo norte e nordeste que nós mapeamos e catalogamos em nossa plataforma que é a base da nossa iniciativa. O nosso sonho é conseguir mapear todas as cantoras negras e indígenas do Brasil, porque ainda existem festivais e curadores que dizem que não encontraram cantoras para colocar em suas line-up”, disse.

O festival

O reconhecimento e o apoio do Edital Natura Musical destacam a relevância do Festival, ao promover espaços para as artistas terem suas vozes propagadas, contribuindo para a preservação e valorização de culturas que, muitas vezes, são estigmatizadas e esquecidas. Além disso, o festival se configura como um espaço de empoderamento, onde a música serve como ferramenta de transformação social e cultural, inspirando novas gerações a se orgulharem de suas raízes e a se expressarem artisticamente.

“A gente conseguiu realizar esse sonho, graças a Deusa, pela Natura e vamos realizar agora neste sábado, dia 28 de setembro de 2024 aqui em Salvador, na praia de Piatã, ali na Praça dos Coqueiros a nossa primeira edição do festival Frequências Preciosas. Com muito carinho, muita dedicação, muito amor, com a line-up de cinco preciosas que o pessoal precisa conhecer espalhadas pelo norte e nordeste do Brasil”, declara Viviane.

Prestes a estrear o festival que idealizou, Viviane Pitaya comenta com a nossa reportagem as expectativas para essa primeira edição. “Minha expectativa é que as preciosas que vão se apresentar nesta primeira edição do festival Frequências Preciosas, arrasem, toquem sua alma, toque você e você saia de lá lembrando que existem muito mais artistas que você não tem acesso e que são tão incríveis. E que você vai receber uma mensagem muito especial, porque as artistas que selecionamos são preciosas”, conclui.

O Frequências Preciosas foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura da Bahia (FazCultura), ao lado de DecoloniSate, Festival da Diversidade: Paulilo Paredão, Gabi Guedes, Melly e Sued Nunes. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos de música até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Margareth Menezes, Luedji Luna, Mateus Aleluia, Mahal Pita e Casa do Hip Hop da Bahia.

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