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Jojo Todynho: “Sou preta e de direita!”

Jojo Todynho no clipe da música ‘Arrasou Viado’ | Foto: Vevo/YouTube/Reprodução

Há duas semanas, a subcelebridade e influencer Jojo Todynho, em tom de desabafo, berrou para todo mundo ouvir numa live: “Sou preta e de direita”. E complementou: “Estou me sentindo livre. Meu discurso sempre foi esse”. Essa declaração causou um verdadeiro frisson nas hostes dos movimentos LGBTQI+.

A Deputada Federal Erika Hilton, do PSOL, conhecida por sua militância na causa LGBTQI+, soltou o verbo e jogou duro, acusando a influencer de “traidora”: “chamei ela de traidora porque é o que ela é” e afirmou: 

“Não é porque ela é uma mulher, negra, gorda, vinda da periferia, que ela não pode ser de direita. Não é sobre isso. Sabe qual é a diferença dela para todas essas pessoas que eu mencionei agora? É que nenhuma delas usou a agenda e a pauta das pessoas LGBT, dos seus direitos, como trampolim para chegar até lá”

Afinal, Jojo Todynho era tida e havida como um ícone da luta contra a homofobia no país. E aí é que está o grande engano. Muita gente imagina que basta lacrar nas redes sociais e obter milhões de seguidores para que seja uma pessoa progressista e defensora da democracia – o buraco é muito mais embaixo. 

Afirmei, recentemente, num artigo que escrevi para a Revista Raça, que o mundo das celebridades é basicamente composto pelo culto ao sucesso imediato, mesmo que seja às custas de bizarrices, escândalos, destruição de reputações e fake news, e que essas têm sido as ferramentas utilizadas por todos e todas que pretendem ser protagonistas desse processo destruidor. 

Em que pese a resposta dura e direta dada pela deputada federal, há um fenômeno político ocorrendo hoje no mundo das celebridades brasileiras e em particular entre pessoas da comunidade negra, que precisa ser observado com atenção: o encantamento que essas celebridades possuem pelas teses da extrema-direita. 

Não que isso seja uma novidade. O movimento negro brasileiro, por exemplo, convive com essa realidade desde os anos 1930 do século passado, quando parte das lideranças da Frente Negra Brasileira (movimento dos mais importantes no combate ao racismo no Brasil) aderiu à Frente Integralista Brasileira (movimento fascista brasileiro, ultranacionalista, anticomunista, conservador e de extrema direita), liderado por Plínio Salgado.

O que chama a atenção, quase cem anos depois, é que a extrema-direita brasileira, em que pese os esforços de mais de 40 anos da esquerda liderando inúmeras entidades negras país afora, em particular na Bahia, é que esse segmento ideológico continua conquistando adeptos importantes para suas fileiras e pondo em xeque a luta de combate ao racismo no país.  

Não apenas Jojo Todynho está encantada com o discurso da extrema-direita, anunciando entrar para a política em 2026, apoiando os bolsonaristas, além de apoiar o candidato das milícias à Prefeitura do Rio de Janeiro. Mas inúmeras outras celebridades negras, particularmente mulheres negras, acreditam que o identitarismo forjado nos movimentos conservadores norte-americanos,  no qual o individualismo extremado, a intolerância religiosa, a teoria da prosperidade, o negacionismo e a  violência, é o caminho para resolver os problemas brasileiros. 

Fiquemos atentos, pois, como diria o colunista carioca Ibrahim Sued “olho vivo que cavalo não desce escada”

Toca a zabumba que a terra é nossa!

OPINIÃO

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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