Fomento à escrita criativa é um dos objetivos da 4ª Festa Literária Arte e Identidade, conta Cris Santana

Festa começa na próxima quinta-feira (19)

O 4º ano da Festa Literária Arte e Identidade, que acontecerá entre os dias 19 e 21 de setembro, em Salvador, trará como tema “Vozes da Periferia”, promovendo o protagonismo de artistas e escritores de comunidades e oriundos de escolas públicas. Criadora da festa literária, a produtora cultural Cris Santana contou, em entrevista ao Portal Umbu, sobre a realização da nova edição do projeto.

“É uma felicidade estar produzindo, chegar à 4ª edição com esse trabalho árduo de fomentar a arte e a literatura negra. Apesar de nós sermos o quarto estado em população negra no Brasil, ainda é difícil fomentar a arte e a literatura negra. Incentivos da rede institucional pública, privada. Não tem olhares para produzir projetos como esse, que envolve todos os segmentos: música, dança, teatro, literatura negra. É complicado, mas eu estou na resistência.”

Em retrospecto, Cris Santana recorda o processo que levou à materialização do projeto: “A primeira edição foi na pandemia e eu consegui ser contemplada em um edital. Esse projeto eu já tinha uns dois anos tentando um patrocínio, não conseguia. Mesmo aprovado no FazCultura, eu não conseguia empresas para para colocar a grana, para investir nele, mesmo com o incentivo fiscal, eu não conseguia. Então veio a pandemia e eu consegui a contemplação num edital. Ele foi executado todo virtual, foi um desafio que a gente passou”.

Consegui envolver em torno de 240 profissionais da cultura que estavam em casa, sem trabalho. Então o projeto deu start em um momento importantíssimo das nossas vidas

“Sendo transmitido online, eu consegui envolver em torno de 240 profissionais da cultura que estavam em casa, sem trabalho. Então o projeto deu start em um momento importantíssimo das nossas vidas. […] São pessoas que participam, artistas, autores, editoras, afroempreendedores que colam comigo, que estão comigo desde a primeira edição.”

Sobre o tema, a produtora cultural explica que, neste ano, a Festa Literária Arte e Identidade, vem com o objetivo de trazer visibilidade para nomes da cultura periférica. “A 4ª edição vem com o tema ‘Vozes da Periferia’ e o objetivo dessa edição é, exatamente, trazer as vozes, além das vozes negras que estão no mercado, que tem uma visibilidade, trazer também as que não têm. […] Nós abrimos uma chamada pública no Instagram e eu não consegui contemplar um terço, foi muita gente se inscrevendo, querendo mostrar sua arte. Nós estamos trazendo coletivos de poesia, de sarau de alguns bairros periféricos que não têm uma visibilidade”.

Entre os convidados já divulgados para essa edição, o rapper e ativista carioca MC Marechal, é criador do Projeto Livrar e da Batalha do Conhecimento. “No Projeto Livrar, nos shows de hip-hop, ele distribui livros nas comunidades. A Batalha do Conhecimento é a batalha de rima aliada ao assunto da atualidade, do conhecimento, então isso incentiva a população, os estudantes a ler, a escrever”, conta Cris.

Anderson Shon também é um dos convidados e liderará um espaço voltado para quadrinistas baianos, onde serão expostos produtos como livros e outros itens. Ainda terá o Espaço Empoderamento, na Casa Vale do Dendê, que abrigará os lançamentos de livros e sessões de autógrafo; o Espaço Identidade no Museu Eugênio Teixeira Leal, onde serão as mesas e rodas de conversa.

A produtora cultural também comentou sobre a participação de parceiros como: a Fundação Pedro Calmon, por meio da Biblioteca de Extensão que ficará no Terreiro de Jesus e mais alguns equipamentos culturais como a Casa do Carnaval, Museu de Energia, Museu Nacional de Enfermagem, MUNCAB, Casa do Olodum.

Um dos objetivos dessa edição é fomentar, nas escolas públicas, a escrita criativa, a leitura, a literatura do segmento afro-brasileiro

“Um dos objetivos dessa edição é fomentar, nas escolas públicas, a escrita criativa, a leitura, a literatura do segmento afro-brasileiro. Nós lançamos um concurso de escrita criativa, somente para escolas públicas, onde a gente incentiva a escola a fazer um concurso interno e ter um poema representante daquela escola. Recebi as 10 escolas selecionadas. Cada poema lindíssimo e com o tema da festa literária. Então existem poemas com sentimento, com pertencimento o sentimento que eles têm e o que eles vivenciam no dia a dia, na escola e na vida pessoal”, revelou a produtora cultural, que conta com o apoio da coordenadora pedagógica Márcia Mendes e da curadora Karla Carvalho, professoras que fizeram a seleção dessas obras.

É muito sensível e emocionante você poder dar voz a essas potências que estão nas escolas e provar que a escola pública tem potencial

“Os poemas emergem da sua própria narrativa, da sua escrevivência. Então vem dotado de resistência ao racismo, identidade, pertencimento, emoção. Tem poemas que você percebe que a pessoa que escreveu sofreu algum tipo de assédio. É muito sensível e emocionante você poder dar voz a essas potências que estão nas escolas e provar que a escola pública tem potencial, tem professores que se interessam em fazer um trabalho e tem alunos interessados em crescer”, conclui Cris Santana.