Moradores de Cachoeira e cidades vizinhas, além de turistas lotaram as ruas

Uma multidão tomou as ruas de Cachoeira, no Recôncavo, na manhã desta quinta-feira (15), para celebrar Nossa Senhora da Boa Morte. A data é considerada um dos momentos mais importantes do município e atrai baianos de outras cidades e turistas brasileiros e estrangeiros. A programação inclui missa solene, procissão e festa, e as celebrações continuam até domingo.
A missa na igreja matriz estava marcada para 10h, mas 1h antes já havia fiéis em pé em frente ao templo aguardando as portas serem abertas. Os veteranos contaram que se anteciparam para conseguir um lugar, já que a igreja fica lotada. Duas quadras adiante um batalhão de fotógrafos disputava um espaço para registrar a saída do desfile das irmãs da Irmandade da Boa Morte. O grupo, composto por 30 mulheres, saiu em procissão até a igreja sendo seguido por admiradores.Quando a multidão chegou aos pés do templo, ele já estava lotado. Bancos, corredores e nave central foram tomados pelos fiéis e parte dos religiosos ocupou também o pátio em frente da igreja. A maioria vestiu branco.
A missa começou com uma saudação às irmãs mais antigas da Irmandade e teve participação de autoridades, como da prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga (PT), e do secretário estadual de Cultura, Bruno Monteiro. Cânticos e orações deram o tom da celebração, e a passagem bíblica em que a voz de Maria faz João Batista se manifestar no ventre da mãe dele, Isabel, foi um dos destaques. Logo após haverá procissão pelas ruas de Cachoeira de volta para a sede da Irmandade.
HÁ QUANTOS ANOS SE CELEBRA O FESTEJO?

A Festa de Nossa Senhora da Boa Morte é celebrada há mais de 200 anos no Recôncavo Baiano, especificamente na cidade de Cachoeira. Esta festividade é uma das mais importantes manifestações culturais e religiosas afro-brasileiras, organizada pela Irmandade da Boa Morte, composta por mulheres negras descendentes de escravizados. A festa ocorre anualmente em agosto e é um símbolo de resistência, fé e preservação das tradições africanas no Brasil.
Nossa Senhora da Boa Morte é uma devoção mariana que possui um significado especial no contexto afro-brasileiro, especialmente no Recôncavo Baiano, em Cachoeira. A festa é organizada pela Irmandade da Boa Morte, uma confraria composta exclusivamente por mulheres negras, muitas delas idosas, que descendem de escravizados africanos.
Origem e História:
A devoção a Nossa Senhora da Boa Morte surgiu em Portugal e foi trazida para o Brasil pelos colonizadores. No Brasil, essa devoção foi assimilada pelos escravizados, que encontraram nela um símbolo de esperança e libertação, transformando-a em uma celebração única de sincretismo religioso, misturando elementos do catolicismo com tradições africanas.
A Irmandade foi fundada no início do século XIX e tem uma estrutura hierárquica bem definida. As irmãs são respeitadas como guardiãs das tradições e realizam a festa com grande devoção. Elas se dedicam a obras de caridade e ajudam a manter viva a memória e as práticas culturais afro-brasileiras. Na festa de Nossa Senhora da Boa Morte, há uma clara fusão entre o catolicismo e os cultos africanos, como o Candomblé. Nossa Senhora da Boa Morte é sincretizada com orixás como Iemanjá e Oxum, representando a mãe acolhedora e a deusa das águas e da beleza.