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CAPÍTULO 2 – Amor próprio. Construído, Alugado ou Financiado?

Sobre Uma Linda Mulher, mentoria financeira e Linkin Park 

Essa é a SEGUNDA de 12 partes de um projeto íntimo e desafiador, os 12 de Junho. 12 textos sobre o amor, a cidade de Salvador e as contradições da vida adulta.

De início, vamos fazer um pacto conceitual. Não é só fazer skin care, beber água pra caramba e cuidar do corpo.  Autocuidado é massa, quando a se gente ama, é claro que a gente se cuida, mas O AMOR PRÓPRIO, aqui pautado, é a capacidade de se perceber e contemplar, como ser humano. Você é a média de Beyoncé, sua manicure, seu barbeiro, seu maior afeto e a pessoa mais chata do mundo, todo mundo aí é humano. Você merece viver as dores e as delícias de ser você, por inteiro. 

Recentemente, falando com minha mentora financeira, tive um rompante de consciência e, assistindo Uma Linda Mulher, vi uma Julia Roberts jovem passando uns perrengues. Isso gerou um papo sobre estar na idade de pensar moradia futura. A dúvida caiu no sofá da sala: comprar terreno e construir, alugar e investir, ou financiar e amortizar? 

Depois, em um vídeo no insta, um preto carioca dizia: “Nosso corpo é casa. Temos que amar a nossa moradia”. Falei… – Se eu sou minha própria casa, o amor próprio deve ser a chave. É como eu me acesso sem precisar quebrar uma porta ou janela. É o jeito certo de entrar sem incomodar os outros. Posso abrir os armários da sala da minha alma, posso andar descalço. Se a chave tá comigo, a casa é minha.

Feliz, pós filminho clássico e ajudado pela metáfora engraçadinha, argumentei: se eu sou minha casa, tem 3 jeitos de CONQUISTAR O AMOR PRÓPRIO DOS SONHOS: construir, alugar ou financiar.

Na ótica da paternidade, penso que construir amor próprio precisa começar na infância. Cacá tem 7 anos. Não curto criar menino baseado em performance. Nota 10 em Geografia não forma caráter, mas tento ser progressista e humanista o máximo que dá. 

Assim como uma casa de alvenaria, essa construção não dá pra fazer sozinho. Construir é mostrar pra essa pessoinha miúda, que ela é única. Tão humana quanto os colegas, o pai, a mãe ou Enaldinho. Pra bater essa laje, filho, seremos eu, seus tios todos e muita feijoada em manhãs de domingo. Não vejo muito jeito de construir o amor próprio com raízes realmente profundas se você não for orientado quando é novo e tento fazer minha parte para criar repertório e referência, porque depois de grande, o papo muda um pouco.

Alugar amor próprio é mais ou menos assim: Toma emprestado, pra si, jeitos e características de outra pessoa ou grupo. Acessa espaços e se apropria de ideias e facetas, com o tempo, algo original surge. Fazer parte de um grupo, uma tribo, um clube do livro, um fã-clube, não deslegitima seu caminho. Mas às vezes é antinatural.

Vou me usar como exemplo. Em 2002 eu era evangélico, mas já apaixonado pelo rock. Eu não ouvia Linkin Park. Mestre Ratinho, meu professor de Jiu-Jitsu dizia “New Metal é som de bicha, você já é quase, não vou lhe empurrar da beira”, ele era meu único fornecedor de DVD de rock. Sei quantos absurdos tem aí. Mas em 2003, ele mesmo me deu o Live in Texas do Linkin, eu amei, ouço até hoje na academia. 

Ele “liberou a banda”. Mas a minha banda predileta, já estava posicionada: era o Iron Maiden. Isso é parte de mim, mas não necessariamente eu escolhi. Com 12 anos, eu não era roqueiro convicto, só era inquieto. Me guiava no rock com a bússola de outra pessoa.

Desse aluguel, formou-se o Josuca guitarrista de hoje. Faço minha própria música, com meu próprio jeito de compor, mas comecei alugando. Alugar é um bom caminho antes de ter algo realmente seu, inclusive, moro de aluguel.

“Financiar e adiantar as parcelas é quase sempre a melhor opção. No aluguel, por mais que você pague o preço, nunca será seu. Construir, às vezes é algo que nossos pais não puderam ajudar e a gente não tem recursos quando adulto. Assim, financiar parece ser o melhor”. Minha mentora financeira disse isso, mas poderia ser uma psicóloga falando de se amar. 

Financiar o próprio amar é entender que aquilo que se está acessando de bom, talvez ainda não seja seu, mas será. É pagar o preço. Aquela certeza de fazer parte pode ainda não ter chegado, mas fomente. Com tempo, com grana, com atenção. Foca na aula de forró do sonho. Aprenda uma atividade, aí sim, comece rotina de autocuidado. Se der, viaje pro lugar que sonha, do jeito que der. Não tô falando de arroubos de grana, mas você faz o que gosta sempre que pode? Autorize-se. A grana que você ganha, precisa lhe servir. Trabalho é venda de seu tempo. E esse ativo precisa financiar sua felicidade.

Construir é criar estrutura para se gostar e se ver com carinho, é casar consigo mesmo, no que tange se gostar na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza.

Alugar é se mover, entender lugares e dinâmicas, que podem não ser suas, mas que trarão rotinas, jeitos e formas de ver a vida. Financiar seu amor próprio é fomentar com energia, tempo e grana o que você já sabe que faz sentido pra ti. E nada impede de você ter duas chaves, dividir com alguém. Pode financiar uma, alugar outra. Enfim, não é sobre mercado imobiliário, é sobre amor. E acho que meu afago já conseguiu te mostrar o que eu penso.

Mas, ó: Quando você errar, não confunda amor próprio com ficar passando pano para si. Quando vacilar, peça desculpa. Amar não é relevar tudo. Não seja babaca. Não por escolha! Se compreenda.

E sobre estabelecer metas e às vezes se permitir mudar, tente. Eu tenho tentado gostar mais de mim. Não tem sido algo fácil. Mas tem rolado. Provavelmente, não vai ter um príncipe me encontrando na rua, pra transformar minha vida ou a sua, como foi com Julia Roberts. O que não significa que você não vai ter histórias de cinema, mas se ame antes.

Você tem uma vida só e como o Linkin Park cantou na academia hoje pra mim: But in the end, it doesn’t even matter.  Mas no fm isso nem mesmo importa…

Lembre sempre: você é uma pessoa e não tem a menor obrigação de ser ótimo em tudo. Calma, campeão. E parafraseando uma frase que ouvi em mentoria. “Comece, erre, acerte, aperfeiçoe no caminho. Mas se movimente. A vida é muito curta para você não tentar”. E como diria Chester Bennington, vocalista do Linkin Park:

Te amo, Josú

Opinião

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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Antunes
Antunes
3 meses atrás

Potente!

Danilo
Danilo
3 meses atrás

Na moral!! Que gênio! Esperando o cap 3

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