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“Apenas 3% dos brasileiros se acham feios”: Sobre autoestima masculina e sua dependência da opressão ao feminino

Christian Bale em cena de “Psicopata Americano” (2000) | Foto: Reprodução

Lembra daquela máxima da Marcela do BBB 20? “Autoestima de homem tinha que encapsular e vender, ia ficar tudo rico.” Pois então, hoje quero te dar 6 motivos para você estudar essa tal autoestima do homem cis hétero.

A principal razão para falar desse assunto é o resultado de uma pesquisa que apontou o seguinte: 

“A autoestima entre os homens se mostrou elevada, enquanto o resultado da pesquisa realizada pelo Instituto Kantar, do Ibope, divulgou que, entre as mulheres, a realidade é outra: 20% sofrem com baixa autoestima.”

Isso quer dizer que os homens estão mais satisfeitos, porque possuem uma autoestima melhor que as mulheres? Nada disso! A visão que eles têm de si tem como base a violência praticada contra o feminino e o contrato social patriarcal que encara a cultura dos gêneros como uma forma de colocar uns submissos (mulheres) a outros (homens). Por isso, é vital que as mulheres saibam o que está na sua realidade que sustenta essa dita elevada autoestima. Isso vai fazer elas olharem aquela confiança masculina como fruto de inseguranças e medos, mas do que uma sólida capacidade de saber se amar e enxergar a si mesmo. 

  1. Rivalidade Feminina: Quem já ouviu falar na prateleira do amor da Valeska Zanello, sabe que esse conceito se amplia para a rivalidade feminina. Sendo “objetos” do olhar masculino e de seu poder de escolha, as mulheres se debatem na prateleira tentando disputar o local de escolhida. Com isso, nasce a comparação e os conflitos para ver quem é mais bonita, amada ou popular. Enquanto isso acontece, homens de beleza e caráter mediano sabem que serão escolhidos porque eles não precisam de muito. A depender da questão cultural e social, basta eles aparentarem masculinidade, terem um “trabalho digno” e serem socialmente agradáveis que rapidamente podem ser alvo da atenção de várias mulheres.  
  1. Paternidade Voluntária: Esses dias eu estava lendo sobre o folclore para o meu filho e me deparei com a história do boto, um homem que seduz mulheres, as engravida e some. Pra mim, isso não tem nada de lenda! No Brasil mais de 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai em 2022. E o fato do nome do pai estar no registro ainda pode significar muito pouco, já que o peso do cuidado dos filhos ainda recai sobre a mulher. Esse desequilíbrio faz com que homens se sintam muito felizes em serem pais! – quando eles querem ser.
  1. Casamento: Se para as mulheres o casamento é fator de adoecimento da saúde mental (elas são 74% da população que toma remédios para doenças mentais), para os homens é atribuído como uma forma de “almofada psíquica” – termo usado por Zanello – que garante sua proteção emocional e psicológica. A cultura machista entrega à mulher o casamento como sua responsabilidade e projeto de vida, enquanto para os homens basta garantir seu lugar de provedor da família.
  1. Pressão estética: Um dos dados da pesquisa que citei afirma que “apenas 3% dos homens brasileiros se acham feios e que 47% se consideram bonitos”, logo, os homens não sofrem na mesma medida de pressão estética que nós. Basta observar o quão permitido é que eles tenham rugas, cabelos brancos e até engordem e percam os cabelos. Não é à toa que quando o assunto é custos com beleza, os homens gastam cerca de 0,7% do seu salário e as mulheres desembolsam quase 54% de sua renda. 
  1. Silenciamentos:  O silêncio é cultural e nasce dos dois lados, masculino e feminino, por motivos diferentes. As mulheres silenciam seus incômodos e aflições na convivência com homens para não serem mal vistas. Nos homens, o silêncio cumpre o papel de proteção do código masculino de irmandade, onde o erro do amigo é minimizado e anulado. Se o erro não aparece, a imagem pública do homem permanece intacta e sua autoestima não é afetada.
  1. Sexo Fálico: A sexualidade é dominada por homens, especialmente nos filmes pornográficos. Com isso, a predominância simbólica do “fazer sexo” fica na penetração e no sexo fálico, onde o pênis reina no lugar do prazer. Isso torna o ato sexual um lugar de performance masculina solitária, ainda que uma ou mais mulheres compartilhem a mesma cama. Em contraposição, o prazer sexual da mulher com a penetração é muito menor, como apresenta uma pesquisa do Journal of Sex and Marital Therapy que afirma que 80% das mulheres não conseguem ter orgasmo só com penetração. No entanto, como o machismo ensina bem, o sexo não foi feito por e para mulheres. 

Depois de ler o texto, você consegue perceber como a autoestima masculina depende do nível de condicionamento feminino à cultura machista? Não é à toa que, quando uma mulher se comporta de forma contrária às regras sociais ditas, ela é rechaçada pelos homens, incluindo pessoas da sua vida como parentes, companheiro e até filhos! Seguir o caminho oposto implica que eles percam o centro da história e encarem suas fragilidades e vulnerabilidades e percebam que sua autoestima é uma farsa alicerçada pela dor e opressão ao corpo e a independência do ser feminino. 

FONTES:

FOGAÇA, Ana Beatriz. Pesquisa mostra autoestima elevada entre homens, mas não entre mulheres. Jornal da USP, UOL, 2022

ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Editora Appris, 2020.

CURVELLO, Ana Carolina. Mais de 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai neste ano. Gazeta do Povo, 2022.

Estudo mostra que mulheres gastam 54% do salário com beleza. We Fashion Trends.

Por que mulheres não sentem tanto prazer com penetração?. Yahoo.

Opinião

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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