Durante o mês de maio, o bairro pôde experimentar um pouco da Caravana Meio Tempo com peças sobre educação ancestral, cultura e contemporaneidade

Nesta quinta-feira (23), a comunidade de Cajazeiras recebeu o último espetáculo da caravana cultural do Coletivo Meio Tempo, projeto com foco na transformação da realidade educacional e cultural das periferias de Salvador. A programação, que promove atividades desde abril, será levada, no mês de junho, para a Cidade Baixa.
Para encerrar a passagem pela região com chave de ouro, a peça apresentada foi “Boquinha… e assim surgiu o mundo”, uma combinação de reflexão e diversão, conduzindo o público por uma jornada divertida e ancestral. No solo protagonizado pelo ator e diretor Ridson Reis, acompanhamos o jovem João Vicente em sua exploração das diversas teorias sobre o surgimento do mundo. Em uma viagem através de seu quarto e das anotações de seu avô, João encontra amigos mágicos que o auxiliam com o dever de casa e o fazem ponderar sobre as múltiplas respostas possíveis para suas perguntas.
Compondo a plateia, os alunos da Organização não Governamental Casa do Sol prestigiaram a produção, deixando perceptível nos olhos e nas gargalhadas das crianças que a peça foi além da história, como algo em que os pequenos imergem pedagógica e sentimentalmente. Para o coordenador executivo da ONG, Altair Pacheco, poder ver a felicidade e a espontaneidade das crianças da instituição foi cativante, principalmente por fazerem parte de uma comunidade periférica.
“Nós da Casa do Sol, sempre desenvolvemos e assumimos esse compromisso de poder apresentar para as nossas crianças esse mundo mágico e imaginário da arte, porque contribui muito para formação. A gente fica feliz em saber que muitas delas, através desses projetos, atingiram, hoje, o primeiro contato com o mundo fantástico do teatro, das artes. É isso que influencia a formação deles, interfere muito no retorno deles ao projeto, às casas, às famílias que compartilham, comunicam pra caramba a interferência que atividades e as conversas contribuem para a formação deles”, afirma o coordenador.

É indispensável pensar no quanto a arte é importante para a construção social dos pequeninos. Altair ainda afirma que se sente maravilhado em poder ver o quanto as crianças se sentiram felizes em poder estar em contato com o espetáculo: “Eu fiquei encantado em ver o suspiro das crianças olhando o espetáculo. Isso, pra gente, é o reflexo de como interfere nessa espontaneidade deles, da alegria e na naturalidade deles de demonstrar a emoção e a alegria. Eu acho que uma atividade como essa contribui muito para formação dessas crianças, para eles poderem acessar algo que, de uma outra forma, estaria muito distante para acessarem e, graças a iniciativas como essas, eles podem viver em diferentes lugares através da arte”.
Para Ridson, que além de atuar e dirigir também é um dos idealizadores do Coletivo Meio Tempo, esse momento é único, principalmente por poder proporcionar às crianças a felicidade de poder assistir a uma peça teatral:
“Quando eu pensei o projeto junto com Roquildes Junior, a gente pensou em não cobrar o ingresso nessa primeira parte, justamente para fazer essa formação, porque sabemos o quanto é difícil. Você ir ao teatro já não é uma cultura que a gente tem em Salvador e, se cobrar o ingresso, fica mais difícil ainda, acho que o que falta realmente para comunidades periféricas de Salvador é a acessibilidade. Então, quando eu pensei nesse projeto, justamente nessa primeira etapa de trazer essa comunidade pra dentro do teatro, que é um espaço deles, e quando eu chamei o pessoal pra fazer a formação, a mediação cultural, a formação de plateia, era justamente ir pras escolas, pros grupos culturais, para que eles tivessem acesso aos espetáculos e as oficinas também”, explica.

A caravana do Coletivo Meio Tempo se despede de Cajazeiras, mas embarca para o Sesi Casa Branca do Caminho de Areia e recebe as oficinas de vídeo e teatro nas quartas e quintas dos dias 5 a 20 de junho, das 18h às 21h. As apresentações ‘O Contentor – O Contêiner’; ‘Boquinha… e assim surgiu o mundo’ e ‘Esqueça’ têm previsão de exibição nas manhãs e tardes das quintas-feiras dos dias 6, 13 e 20 de junho.
As inscrições para participar das oficinas abertas através do Instagram do coletivo: https://www.instagram.com/coletivomeiotempo/
SOBRE O COLETIVO MEIO TEMPO:
O Coletivo Meio Tempo surgiu em 2016 a partir do reencontro artístico de Ridson Reis e Roquildes Junior, multiartistas soteropolitanos, oriundos do subúrbio ferroviário. Eles haviam trabalhado juntos em 2006 na montagem do ‘Sonho de uma noite de verão’, do Bando de Teatro Olodum, e 10 anos depois eles se reencontram para a montagem do espetáculo ‘O Contentor – O Contêiner’, baseado na obra do angolano José Mena Abrantes. A peça rendeu a Ridson Reis a indicação do Prêmio Braskem de Teatro na categoria Revelação. Desde então, o coletivo montou três espetáculos, realizou projetos, eventos, participou de mostras e festivais.