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Muito além de Hollywood: como programas de incentivo ao audiovisual vêm dinamizando a cena em Oklahoma

Foto: Divulgação

Li recentemente a notícia do projeto de criação da Bahia Filmes, uma empresa pública que pretende impulsionar a cadeia produtiva do setor audiovisual na Bahia. Por um lado, comemorei o avanço do projeto de lei elaborado por entidades e coletivos do audiovisual baiano. Por outro, senti falta de saber com mais clareza os próximos passos e, sobretudo, a previsão de quando ele, de fato, entrará em ação. Em menos de cinco anos vivendo em Oklahoma, nos Estados Unidos, observei o quanto um projeto de incentivo ao audiovisual pode impactar positivamente não apenas a economia, mas a própria cultura de um estado. 

Aqui, estamos bem distantes dos estúdios e do glamour de Hollywood. Tanto que Oklahoma muito provavelmente não é o seu destino de viagem, a menos que você tenha vindo trabalhar ou estudar por aqui, como eu. Em geral, as pessoas associam a cultura dessa parte do país aos tornados, aos cowboys, à música country e à grande quantidade de indígenas que foram forçados a sair de suas terras ancestrais e vir para cá nos anos 1830, num episódio que entrou para a histórica como a “Trilha das Lágrimas”. 

Mas, se você assistiu aos filmes Assassinos da Lua das Flores, Stillwater – Em busca da verdade ou à série Tulsa King, você já conhece Oklahoma através das telas. Em Tulsa King, depois de passar 25 anos na cadeia, o mafioso interpretado pelo ator Sylvester Stallone reage como se enfrentasse um castigo ao saber que sua próxima missão seria em Tulsa, cidade localizada no coração de Oklahoma. Na verdade, a série de estreia de maior audiência da TV a cabo em 2022 – superando inclusive a sequência de Game of Thrones, A Casa do Dragão – seria filmada no Kansas. Mas as políticas culturais mudaram não apenas os planos dessa produção, que acabou sendo gravada em Oklahoma, como vêm trazendo mudanças mais amplas no estado. 

À frente de programas de incentivo fiscais como a Lei de Filmagem em Oklahoma de 2021, o Escritório de Cinema e Música de Oklahoma já contribuiu para que produções cinematográficas e televisivas investissem mais de R$1,5 bilhão no estado nos últimos dez anos. A lógica por trás da lei é simples: as empresas de produção cinematográfica recebem um reembolso de 20% em dinheiro sobre as despesas de projetos filmados no estado, com a possibilidade de benefícios adicionais, como é o caso de filmagens feitas em cidades rurais.

Apenas em 2021, produções cinematográficas por aqui contrataram mais de 11 mil pessoas para trabalhar em várias funções da cadeia da cultura: figurantes, assistentes de produção, operadores de som, eletricistas, técnicos de iluminação, transporte, segurança e alimentação, só para citar algumas. Mas não se trata somente de economia. A visibilidade e as discussões levantadas pelos filmes têm reverberado no currículo escolar e na própria identidade do estado de raízes rurais, fortemente ancoradas na ancestralidade indígena.

Tribos nativo-americanas têm trabalhado para expandir seus papéis em filmes e séries também com o objetivo de melhorar a representação dos povos indígenas nas telas. A Nação Cherokee, por exemplo, lançou em 2022 seu primeiro programa de incentivos fiscais, que inclui um desconto de 25% para produções filmadas em suas terras. Um benefício que pode ser somado ao já oferecido pelo Escritório Estadual de Cinema e Música. 

Baseado no livro de mesmo nome escrito por David Grann, o filme Assassinos da Lua das Flores usou algumas locações nas terras dos Cherokees. A obra, dirigida por Martin Scorcese, reconta o mistério envolvido no assassinato de membros da tribo Osage nos anos 1920 em Oklahoma. A Nação Osage também contribuiu com a escolha das locações no estado. Líderes indígenas apresentaram os cineastas a historiadores e artesãos locais para ajudá-los a retratar a história com autenticidade e honestidade.

Além disso, Scorsese trabalhou com o Escritório de Cinema da Nação Cherokee na escolha do elenco, a partir de artistas cadastrados no escritório. O Fundo de Incentivo da Nação Cherokee oferece até R$5,1 milhões por ano para despesas de produção acima de R$259 mil em Oklahoma, dos quais a metade devem ser gastos dentro dos limites da nação Cherokee. 

Professores da rede pública estadual de ensino querem, agora, incluir a história dos crimes contra a nação Osage no currículo escolar. As reflexões englobam um entendimento mais profundo da sociedade no começo do século XX, suas leis e dinâmicas sociais, raciais e de gênero. É o pensamento crítico proposto pela arte ganhando novos caminhos. Alguns professores, entretanto, temem retaliações devido uma lei estadual que limita lições escolares que possam fazer estudantes se sentirem mal sobre sua raça ou sexo. Mas, como lembram os descendentes dos Osage, o que está em jogo não é apenas a exatidão factual. É também como as novas gerações serão ensinadas a registrar e lembrar o passado.

Programas educacionais estão sendo criados para que mais pessoas possam se beneficiar das oportunidades profissionais da indústria cinematográfica. Desenvolvimento de infra-estruturas, como estúdios de som, estão sendo construídos para que o estado possa acomodar filmes maiores com orçamentos maiores. Oficinas de cinema estão sendo implementadas em todo o estado para que as comunidades entendam o quanto elas têm a ganhar com o envolvimento com o mercado audiovisual.

Para saber mais sobre as leis de incentivo à cultura em Oklahoma, vale visitar o site do Escritório de Cinema e Música de Oklahoma [https://www.okfilmmusic.org/]. Twisters, continuação de Twister (1996) que tem lançamento previsto para julho de 2024, será o próximo filme com o apoio do programa a chegar aos cinemas. 

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