Brasil, Colômbia, Cabo Verde, Estados Unidos. Mulheres fazem o gênero ganhar força pelas suas vozes e toques ao redor do mundo
O jazz surgiu entre 1890 e 1910, em Nova Orleans. Marcado pela improvisação e pelos ritmos não lineares mais marcantes para quem canta, toca e ouve, o gênero é facilmente associado à ideia de liberdade. Nada mais feminino do que a coragem de ser quem se é.
Por isso, mesmo com o delay (vou culpar o fuso horário) em homenagear o Dia Internacional do Jazz, em 30 de abril, dei uma pausa na minha viagem-pesquisa à Colômbia para estrear minha coluna no Portal Umbu compartilhando mulheres que dão régua e compasso ao passado, presente e futuro dessa expressão musical tão globalizada.
Antes de apresentar a lista, deixo um convite para aqueles que estiverem na capital baiana entre 18 e 19 de maio: marquem presença no Festival Salvador Jazz e tenham a feliz experiência de assistir algumas das artistas citadas nessa cartografia, além de outros nomes especializados em gerar sentimentos através da sonoridade mais irreverente do mundo. E o melhor, é gratuito.
Na playlist feita especialmente para o 1º texto da coluna, você pode ouvir uma música de cada uma das artistas citadas nesta lista enquanto lê sobre elas.
>>Ouça a playlist Jazz Por Elas
Ella Fitzgerald (EUA)
Considerada uma das maiores, se não a maior, cantora de jazz da História, Ella fez parte do cinema e da música, apesar de ser uma mulher tímida (ou silenciada ao longo de sua trajetória?). A Grande Dama do Jazz, no seu canto, atingia a marca de 3 oitavas, um feito raríssimo. Ella Fitzgerald foi a primeira mulher afro-americana a ganhar um Grammy.
Nina Simone (EUA)
Se tornar uma voz mundialmente conhecida não foi o suficiente para que seu sofrimento pessoal como uma mulher negra fosse poupado, muito menos que sua luta por direitos para as pessoas afro americanas terem liberdade e dignidade. Nina Simone foi nomeada 15 vezes para o Grammy e hoje, artistas e produtores musicais de todo o mundo revisitam, reinterpretam e sampleam as suas músicas ou excertos delas.
Cláudia Gomes (COL)
Nascida em Medellín em 1952, Claudia Gómez vem de uma família enraizada na prática musical. Seu avô, Enrique Suárez, foi cofundador de um dos primeiros grupos de jazz de Medellín e sua mãe, Ángela Suárez, foi uma grande cantora de boleros e baladas patrocinadas na década de 1960 pela gravadora Codiscos. Após sua estreia em 1989 e três álbuns subsequentes que gravou entre os Estados Unidos e a Espanha, a cantora retornou à Colômbia em 2002. Alguns anos depois, lançou ‘Majagua’ (2004), álbum que percorre os quatro pontos cardeais da Colômbia.
Lucía Pulido (COL)
Lucía Pulido é uma artista mais experimental, de sonoridades diversas a cada projeto. Após a estreia em 1996 em um álbum homónimo ao seu nome, apresentou ‘Cantos religiosos y paganos de Colombia ‘, uma gravação emocionalmente ligada a Manuel Zapata Olivella. Oito anos depois, a cantora de sangue Sogamoseño lançou ‘Luna menguante’, um álbum noturno no qual cantou algumas canções que anos antes Manuel Zapata Olivella a “presenteou” com a condição de fazer com elas o que sua abençoada intuição ditava. O projeto conta com canções de velório e de cowboy, melodias de llanera, gritos de montanha, sons de Chocoan e bullerengues.
Jam Delas (BRA)
A Jam Delas é um coletivo de mulheres instrumentistas de Salvador que se uniu para fortalecer o protagonismo das mulheres na música instrumental. A primeira Jam Delas aconteceu em maio de 2023, na Casa da Mãe, no Festival Stella de Vatapá e, de lá para cá, o grupo vem circulando em diversos espaços e festivais. A expectativa é que o movimento cresça, difundindo o trabalho coletivo e de cada instrumentista. Ainda não existem trabalhos autorais no streaming em nome do grupo porque a coletiva está na etapa de experimentação nos palcos e afinamento enquanto grupo. Apesar disso, no repertório tem músicas autorais das integrantes, como é o caso de “Jacaré”, de Daniela Nátali. O grupo se apresentará no Festival Jazz Salvador.
Luedji Luna (BRA)
Artista que dispensa apresentações, mas talvez sua inserção no jazz não seja compreendida por todos. Afinal, ela não era da MPB? Apesar de ser um grande nome da MPB na atualidade, Luedji traz também uma forte relação com o jazz na sua musicalidade, seja pelos instrumentos escolhidos a dedo para cada composição, seja pela forma com que são tocados ou sua performance, imagem e voz no palco. Pela dimensão e posicionamento de carreira, já é uma realidade que a artista faça parte TAMBÉM do nicho Jazz no mercado, afinal ela passou por diversos festivais do gênero como o Festival Internacional de Jazz de Montreal no Canadá, Rudolstadt-Festival na Alemanha e agora o Festival Salvador Jazz.
Mayra Andrade (CPV)
Mais uma vez em Salvador, a artista de Cabo Verde dessa vez vem com show inédito ao Festival Jazz Salvador, misturando influências brasileiras, do jazz parisiense e da música portuguesa. Apesar de ter nascido em Cabo Verde, Mayra cresce como cidadã do mundo, começando com Senegal, Angola e Alemanha, além claro do seu país de berço. Na adolescência, ela já tinha Caetano Veloso como referência musical e ganhava concursos de música em Paris. Autodidata, compõe suas músicas ao violão e está sempre rodeado de músicos de toda parte do mundo, bebendo das mais diversas fontes.
Se depois dessa lista puder te pedir algo, é que vá a esse show por nós dois. Retorno ao Brasil em junho e vou perder um festival de jazz que, ao mesmo tempo, conseguiu ser inovador, diverso na curadoria e acessível tanto financeiramente (afinal é gratuito), como musicalmente, misturando artistas de maior apelo popular com aqueles de musicalidade mais experimental e complexa. Por fim, te deixo um até logo e uma playlist.