Socióloga visita Bahia entre os dias 15 e 18 de maio para falar sobre pesquisa que aborda vida e legado de Maria Quitéria e Joana D’Arc
Subversão e vanguarda são duas palavras que definem a vida e o legado de duas personagens históricas que, embora inseridas num contexto histórico de submissão feminina, se colocaram à frente no campo de batalha para defender seus ideais e seus iguais.
As histórias de Maria Quitéria e Joana D’Arc são analisadas minuciosamente por Isabelle Anchieta, socióloga e escritora que está com chegando à Bahia para divulgar sua obra “Revolucionárias”, publicada pela Editora Planeta. Em entrevista ao Portal Umbu, Isabelle explicou o que conduziu seu trabalho ao examinar as similaridades entre as jornadas de duas mulheres, uma baiana e outra, francesa, que fizeram História.
“A ideia foi investigar as mulheres revolucionárias. Eu comecei um pouco instigada para tentar fechar uma questão que não estava muito clara no meu primeiro trabalho”. A socióloga realizou um trabalho de pesquisa minucioso ao longo de 8 anos cujo tema era a história da imagem da mulher no ocidente, processo que a levou a observar que “as mulheres que foram subversivas e usaram a astúcia, foram pelas margens”.
Em seu trabalho mais recente, a autora buscou o protagonismo daquelas mulheres que “não foram tão sutis, que enfrentaram o sistema de uma maneira frontal, subversiva”.
Em seu trabalho mais recente, a autora buscou o protagonismo daquelas mulheres que “não foram tão sutis, que enfrentaram o sistema de uma maneira frontal, subversiva”. Isabelle Anchieta contou que perguntas a respeito de Joana D’Arc em suas outras pesquisas, a levaram a constatar que a heroína francesa firmou um marco no imaginário ocidental.
“[Joana] é, de fato, a primeira mulher a liderar o exército francês e a primeira a liderar um exército na História ocidental. Eu começo com ela e a partir daí começo a descobrir, no caminho, outras personagens”. D’Arc liderou grandes cavaleiros franceses e era respeitada pelo rei.
A socióloga lamentou a escassez de informações a respeito de Maria Quitéria, mas salientou que, apesar de pouca informação sobre sua história, pôde notar um conjunto de similitudes entre esta personagem e a figura europeia. “A ideia dela também ser a primeira a ser legitimada era importante. Não é uma subversão que se dá às margens do sistema, que está dentro do próprio sistema”. Maria Quitéria foi a única soldada reconhecida ainda em vida pelo imperador Dom Pedro I.
Pensando em quais recursos e em que tipo de convencimento foram utilizados pelas revolucionárias para subverter, Isabelle declarou: “nada melhor do que começar com as mais subversivas da subversivas, que são as mulheres que rompem uma fronteira que era até então exclusiva do masculino que é a guerra”.
Sobre como os marcos históricos e suas personagens centrais dialogam com a contemporaneidade, a escritora explicou: “A gente tem essa tendência a acreditar que está começando tudo de novo, que vai achar respostas novas e, muitas vezes, as respostas já estão dadas porque estão intermediadas. Nós estamos lidando com questões que são resolvidas. A gente tem que lidar com um passado que reverbera no presente em uma série de questões”.
“Todas as mulheres do passado, de certa forma, deixam essas linhas para o futuro, e não só as mulheres, mas também as relações sociais deixam os constrangimentos e os desafios que a gente ainda tem que lidar. As coisas nos assombram até hoje, um conjunto de preconceitos que vão sendo forjados durante muito tempo e, para desconstruí-los, é preciso uma análise crítica, é preciso retomar o passado e descortinar, agora, com esse olhar de construir um novo humanismo”, definiu.
Isabelle aponta que, apesar dos avanços nas reivindicações e conquistas de direitos civis e humanos, não é fácil lutar por igualdade. Ela destaca que a História é “um bordado, não é uma linha contínua”. “Está emaranhada de uma série de passados, presentes e até de futuros, de perspectivas. É saber desalinhar esse novelo complexo”, disse, explicando que acaba sendo parte do papel do sociólogo e do historiador trazer esclarecimentos e reflexões críticas.
Quanto à expectativa de realizar uma itinerância para falar sobre mulheres que revolucionaram seu tempo e se mantiveram atuais, inclusive na terra de uma delas, na Bahia, Isabelle revelou: “está sendo uma alegria”. “Eu fui a São José das Itapororocas, que hoje tem o nome de Maria Quitéria, zona rural onde ela nasceu, e foi muito importante ir ao local, para fazer toda a investigação, os arquivos. Eu fui à Cachoeira e Feira de Santana, depois a Salvador, em todos os locais onde ela passou e lutou”.
Ela ainda destaca: “Vai ser importante retomar e, sobretudo, eu estou voltando, primeiro, para entregar esse trabalho aos baianos, para honrar as pessoas que me ajudaram. Desde o escritor local Elias Enock, que é da comunidade rural de Maria Quitéria. Eu fiz questão que ele fosse mediador da conversa, eu quero destacar o trabalho dele na região. É um pouco para iluminar o trabalho dos baianos”.
A pesquisadora ainda menciona o trabalho de Lélia Fernandes, escritora de Feira de Santana que biografou mais de 40 pessoas da cidade, entre as quais está Maria Quitéria, e o poeta Crispim Quirino, de Cachoeira, que colaborou na elaboração de conexões. “Para honrar o trabalho de pessoas como esses escritores, esses pesquisadores locais contribuíram para o meu trabalho”, declarou. Enock, Fernandes e Quirino serão mediadores, ao lado de Mirtes Santa Rosa, publicitária e CEO da Umbu Comunicação, da itinerância de lançamento da obra.
“Essa é a beleza da teia humana, da gente trazendo a linha para o outro. Vou deixar, com o meu trabalho, linhas soltas para novas pesquisadoras e pesquisadores”, concluiu Isabelle Anchieta.
AGENDA:
FEIRA DE SANTANA:
15 de maio (Distrito de Maria Quitéria)
Mediador: Elias Enock
Endereço: Colégio Estadual do Campo Maria Quitéria – R. Real, 5384-5444 – Novo Horizonte, Feira de Santana – BA, 44036-403
Elias Enock Gomes de Moraes, nasceu em 17 de março de 1954, na localidade de São José das Itapororocas, hoje Distrito de Maria Quitéria, Munícipio de Feira de Santana, estado da Bahia, cresceu e vive até hoje no citado distrito. Filho de uma professora, foi incentivado a escrever durante a sua infância, o que o levou a participar de diversos segmentos literários, trabalhando ainda em um jornal local do município. Hoje aposentado como funcionário público estadual, e com um livro publicado, participa diversos programas de leitura, incentivando a leitura e conhecimento da história de Maria Quitéria
16 de maio:
Mediador: Lélia Fernandes
Endereço: Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA – Rua Conselheiro Franco, 66 – Centro. CEP 44002-128. Feira de Santana – BA
Lélia Vitor Fernandes de Oliveira é licenciada em Letras e Pedagogia, pela UEFS. Dentre as várias funções exercidas na área da educação foi Secretária de Educação de Feira de Santana/BA e de Santa Bárbara/BA e Diretora do Departamento de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana. Na área cultural, atualmente é Presidente da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana; membro da Academia de Cultura da Bahia, da Academia de Letras, Artes e Música da Bahia, da Academia de Letras e Artes de Fortaleza/CE; da Academia de Educação; do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, dentre outras. Já publicou 35 livros. Além disto, é poetisa, pesquisadora, memorialista, teatróloga, palestrante, filatelista e numismata.
CACHOEIRA:
17 de maio (Recôncavo Baiano)
Poeta convidado: Crispim Quirino
Endereço: Câmara de Vereadores de Cachoeira – Praça da Aclamação, S/N – Cachoeira, BA, 44300-000
Criador do Recôncavocast o Podcast, participou da Flica 2022 e da Bienal do Livro da Bahia 2024. Articulador do Primeiro Consórcio de Cultura da Bahia. Lança seu primeiro livro de poesia Antologia Poética Inédita pela Cogito Editora. O Poeta Crispim Quirino é Bacharel em Museologia pela UFRB
SALVADOR:
18 de maio
Mediadora: Mirtes Santa Rosa
Livraria Escariz
Endereço: R. Fernão de Magalhães, 2992 – Barra, Salvador – BA, 40140-410
SOBRE A AUTORA:
Isabelle Anchieta é uma socióloga que compartilha seus conhecimentos para compreender as difíceis (e ambíguas) relações humanas. É doutora em Sociologia pela USP, mestre em Comunicação Social e jornalista. Recebeu prêmio como socióloga brasileira pela Associação Internacional de Sociologia (ISA), com apoio da Unesco; prêmio Rumos Itaú Cultural e prêmio Abeu 2020, na categoria Ciências Sociais pela trilogia Imagens da Mulher no Ocidente Moderno.
SOBRE A EDITORA:
Fundado há 70 anos em Barcelona, o Grupo Planeta é um dos maiores conglomerados editoriais do mundo, além de uma das maiores corporações de comunicação e educação do cenário global. A Editora Planeta, criada em 2003, é o braço brasileiro do Grupo Planeta. Com mais de 1.500 livros publicados, a Planeta Brasil conta com nove selos editoriais, que abrangem o melhor dos gêneros de ficção e não ficção: Planeta, Crítica, Tusquets, Paidós, Planeta Minotauro, Planeta Estratégia, Outro Planeta, Academia e Essência.