Em entrevista ao portal Umbu, Ridson Reis conta sobre os projetos promovidos pela Caravana nos espaços Boca de Brasa
Ridson Reis é músico, ator, diretor teatral e um dos idealizadores do Coletivo Meio Tempo, um projeto que vai ocupar diversas comunidades de Salvador com apresentações, espetáculos, oficinas de teatro e audiovisual. As ações do grupo serão realizadas nos meses de abril, maio e junho nos espaços Boca de Brasa localizados na periferia de Salvador (Subúrbio 360º, em Vista Alegre; no Boca de Brasa, em Cajazeiras; e no SESI Casa Branca, na Cidade Baixa).
O grupo foi contemplado no edital Gregórios – Ano III e vai apresentar os espetáculos “O Contentor – O Contêiner”; “Boquinha… e assim surgiu o mundo” e “Esqueça”. Entre as atividades da caravana realizada pelo coletivo estão inclusas duas oficinas de Teatro e Vídeo, voltadas para jovens e adolescentes que residem nestas localidades. As oficinas temáticas EU – documento do mundo e Criando com Celular mudarão a cada semana, de acordo com o espetáculo a ser apresentado.
Após a realização das atividades, o grupo deve fazer uma montagem e uma temporada de doze apresentações de um espetáculo teatral, pensado para o Teatro Gregório de Mattos, prevista para o segundo semestre.
Baseado no livro Monocontos – Histórias para Ler e Encenar do roteirista, diretor e dramaturgo Elísio Lopes Jr., a proposta é reunir quatro atrizes pretas. Com direção de Ridson Reis, as sessões contarão com tradução em libras, e ingressos destinados a estudantes de escolas públicas.
Durante toda a temporada, as atividades do projeto Caravana do Meio Tempo serão totalmente gratuitas e contarão com tradução em libras. Confira abaixo a programação completa do Coletivo Meio Tempo. Mais informações sobre o projeto estão disponíveis no Instagram @coletivomeiotempo ou através do e-mail coletivomeiotempo@gmail.
Em entrevista ao Portal Umbu, Ridson Reis explicou o início da sua trajetória no universo das artes, contou sobre o surgimento do Coletivo Meio Tempo e as trocas artísticas com as novas gerações. Confira:
“Eu comecei a fazer música numa comunidade chamada Alto do Cabrito, no subúrbio ferroviário, numa ONG cultural chamada El Quadrado, comecei fazendo percussão, e seis meses depois eu comecei a fazer teatro. E a partir de lá, isso foi em 2002, A partir daí eu não parei mais. Comecei a fazer teatro profissionalmente. Em 2005, quando eu fiz um espetáculo chamado Despertar da Primavera, com a companhia Teatro dos Novos, no Teatro Vila Velha”, diz Ridson sobre o início da sua carreira.
No ano seguinte, em 2006, foi a vez de entrar para o Bando de Teatro Olodum e estreou logo encenando Shakespeare em “Sonho de uma noite de verão”. “Desse contato com o bando que eu comecei a fazer produção. Comecei produzindo o grupo, fazendo assistência de produção dos espetáculos e dos projetos. E fazendo produção de uma forma muito ampla. No nicho específico da produção, que é uma área muito diversa. A gente acabava fazendo de tudo. Fazia produção técnica, produção, enfim, de logística, produção de comunicação, coordenação de produção. E acabei também entrando no meio da escrita de projetos, consegui aprovar alguns projetos para o grupo como Petrobras, via Lei Rouanet, entre outros”, conta.
Recentemente, Ridson se formou em Administração de Empresas e acredita que o estudo aliado aos anos de experiência em produção cultural, vá fortalecer sua atuação no segmento.
O projeto
O Coletivo Meio Tempo surge com o desejo de Ridson de experimentar outras funções do fazer artístico, no caso, a direção teatral. Após um intercâmbio em Portugal, Ridson decidiu arriscar novos passos na profissão e, em 2016, convidou alguns amigos atores para fazer um espetáculo.
“Em 2016, eu chamei um amigo, Roquildes Júnior, que é proponente desse projeto e fundador do Coletivo Meio Tempo, para me ajudar a montar esses espetáculos. Inicialmente, a gente não tinha o desejo de montar um coletivo. Já havíamos trabalhado juntos, nos conhecemos em 2006 no espetáculo ‘Sonho de uma noite de verão’”, explica.
Dez anos depois, em 2016, os amigos decidiram montar o espetáculo. A obra deu tão certo que rendeu à Ridson uma indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria “Diretor Revelação”. Foi somente aí que o artista teve mais confiança que o seu trabalho estava sendo reconhecido e que era possível seguir com os próprios passos.
Em 2018, o grupo de artistas lançou o espetáculo ´Esqueça´ que se debruça sobre o “descobrimento do Brasil” sob a ótica dos indígenas. “Resolvemos montar esse texto, para isso chamamos um amigo de Pernambuco, Jordano Castro, também convidamos para dirigir Luiz Antônio Sena Júnior”.
Ridson explica que decidiu batizar o projeto de Meio Tempo, porque, tanto ele como o parceiro do projeto, atuam em outras companhias de teatro. Segundo o artista, o nome do grupo seria uma brincadeira com o “meio tempo” que ele e Roquildes, idealizadores do grupo, dedicariam ao projeto. “A gente trabalha no meio tempo, você está lá no seu grupo [teatral], eu estou no meu e no meio tempo a gente faz isso aqui”, brinca.
>> Leia também: Coletivo Meio Tempo promove espetáculos e oficinas em Salvador
As atividades realizadas nas comunidades do subúrbio de Salvador têm um propósito. “Dialogando com Roquildes, eu cheguei à conclusão: somos dois atores de comunidades, você de Periperi, eu do Alto do Cabrito, creio que seja justo devolver um pouco o que aprendemos e colhemos nesta comunidade. Então, o que é possível levar para essas comunidades? O que a gente faz, teatro e oficinas”, conta Ridson sobre o processo de concepção do projeto.
A tecnologia é outra base importante para as oficinas do projeto. Questionado sobre como está sendo o planejamento para acolher o público jovem tanto em oficinas como nos espetáculos. Ridson diz: “O projeto começou com esse intuito de devolver à comunidade, aquilo que me tirou da marginalidade e das drogas, e até de estar morto, possivelmente”.
“Tenho vários amigos que perdi para as drogas e para o crime. Pensar esse projeto para a comunidade foi com o intuito de levar arte e formação. A ideia é mostrar para essas pessoas que podem continuar sonhando, de dizer: vocês são capazes de fazer isso”, analisa.
Confira a programação da Caravana do Meio do Tempo:
No espaço Subúrbio 360, em Vista Alegre, serão realizadas oficinas de vídeo e de teatro de 22 de abril a 07 de maio, das 18h às 21h. Já as apresentações O Contentor – O Contêiner; Boquinha… e assim surgiu o mundo e Esqueça serão realizadas às terças-feiras dos dias 23 e 30 de abril e 7 de maio, respectivamente, às 10h e 15h.
No Boca de Brasa de Cajazeiras as datas das oficinas de vídeo e de teatro seguem nos dias 06 a 21 de maio, das 13h30 às 16h30. As apresentações O Contentor – O Contêiner; Boquinha… e assim surgiu o mundo e Esqueça estão agendadas para às quintas-feiras dos dias 9, 16 e 23 de maio, na mesma sequência, às 9h e 14h.
Já o Sesi Casa Branca do Caminho de Areia recebe as oficinas de vídeo e teatro nas quartas e quintas dos dias 5 a 20 de junho, das 18h às 21h. As apresentações “O Contentor – O Contêiner; Boquinha… e assim surgiu o mundo e Esqueça têm previsão de exibição nas manhãs e tardes das quintas-feiras dos dias 6, 13 e 20 de junho.
As inscrições para participar das oficinas estão abertas e podem ser realizadas através do Instagram do Coletivo @coletivomeiotempo.
O projeto Caravana do Meio Tempo tem a realização do Coletivo Meio Tempo e foi contemplado pelo edital Gregórios – Ano III, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal.