Hoje (1°), o Golpe Militar no Brasil completa 60 anos e, para abordar o assunto, a reportagem do Portal Umbu selecionou as principais obras que tratam sobre o tema
Nesta segunda-feira (1°), faz 60 anos que a Ditadura Militar foi instaurada no Brasil. O golpe de estado foi executado na madrugada do 1° de abril de 1964 e terminou em 15 de março de 1985. A ditadura militar ficou conhecida na História pela extrema violência contra os opositores do regime. No período, foram relatadas prisões arbitrárias, torturas, estupros e assassinatos.
Por esses motivos, relembrar a data é importante tanto para retratar os horrores da ditadura, quanto para que as novas gerações cresçam conscientes e possam auxiliar na luta pela democracia. Neste sentido, a reportagem do Portal Umbu selecionou as principais obras lançadas sobre a temática. Confira:
“A revolta das vísceras e outros textos” de Mariluce Moura
A obra foi escrita pela jornalista, pesquisadora e professora titular aposentada da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mariluce Moura. O livro é uma republicação de um romance lançado na década de 80, junto com outras reflexões da autora, escritos durante sua prisão, antes e depois da morte do marido, além de artigos e entrevistas para diferentes veículos.
Segundo colocado na categoria romance inédito no prêmio da editora José Olympio em 1981, o livro narra com prosa moderna e envolvente a história da jovem militante Clara. Inspirado na própria experiência de Mariluce, viúva de Gildo, o relato romanceado conta sobre a vida na ditadura de um ponto de vista feminino.
Entre os textos que a nova publicação resgata estão a entrevista de Mariluce a Cris Lira, para sua pesquisa de doutorado na Universidade da Georgia, em 2015. O livro traz ainda uma apresentação do militante e ex-deputado federal Emiliano José.
“Pela Memória de um paí[s]: Gildo Macedo Lacerda, Presente!” de Tessa Moura
A obra traz o terceiro elemento da história de amor de Mariluce e Gildo. A professora de filosofia da USP e pesquisadora Tessa Moura Lacerda era ainda um feto enquanto seus pais viviam o terror nas mãos da ditadura.
Seu livro, prefaciado por Marilena Chauí, traz quatro ensaios que, escritos de forma fluida e pungente e escorados em obras de Bertolt Brecht, Sófocles e Jeanne Marie Gagnebin, entre outros, abordam temas como a necessidade da edificação de uma memória sobre alguém que não se conheceu, a subjetividade de uma criança marcada por uma trágica ausência e a negação dos rituais fúnebres pela ditadura.
Juntos, os livros compõem um mosaico impressionante de uma história, entre tantas outras pouco conhecidas, de crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre 1964 e 1985.
“Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo” de Mário Magalhães
Carlos Marighella foi um militante comunista desde a juventude, deputado federal constituinte e fundador do maior grupo armado de oposição à ditadura militar – a Ação Libertadora Nacional –
No livro, o jornalista Mário Magalhães investiga as várias facetas do biografado. Em ritmo de thriller, reconstitui com realismo desconcertante passagens pela prisão, resistência à tortura, operações de espionagem na Guerra Fria e assaltos da guerrilha a bancos, carros-fortes e trem-pagador. Mas também recupera a célebre prova de física respondida em versos no Ginásio da Bahia e poemas de amor.
“Ainda estou aqui” de Marcelo Rubens Paiva
Eunice Paiva vê o seu marido, o deputado Rubens Paiva ser cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas.
Ao falar de Eunice, e de sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens Paiva fala também da memória, da infância e do filho. E mergulha num momento obscuro da história brasileira para contar – e tentar entender – o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele janeiro de 1971.
“Rebeldes e marginais: cultura nos anos de chumbo (1960-1970)” de Heloísa Teixeira
O livro é um mix de ensaios de Heloisa Teixeira com 28 fotografias e 48 QR codes que levam a vídeos, entrevistas e imagens do acervo histórico da autora sobre os anos de 1960 e 1970. A ditadura militar instaurada no Brasil em 1964 teve dois marcos referenciais: o golpe militar na noite de 31 de março daquele mesmo ano e a publicação do AI-5, em dezembro de 1968, chamado de “o golpe dentro do golpe”.
A geração que resistiu à ditadura também ficou marcada por essa fissura: num primeiro momento, foi às ruas, protestou, fez da cultura uma ferramenta política importante para lutar; a partir de 1969, surgiu a geração do desbunde e também da luta armada. Eram os Rebeldes e marginais do livro de Heloisa Teixeira (então Buarque de Hollanda).