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Bando de Teatro Olodum lança o Projeto Cabaré da Rrrrraça 25+25

Grupo teatral apresentou o projeto que reúne debates, formação de atores e nova montagem de um dos clássicos do catálogo do grupo

O Bando de Teatro Olodum apresentou, nesta terça-feira (26), o projeto Cabaré da Rrrrraça 25+25. No evento de lançamento, realizado no Espaço Cultural da Barroquinha, no Centro de Salvador, o grupo teatral apresentou o projeto que reúne debates, formação de atores e nova montagem de um dos clássicos do catálogo do grupo.

A peça Cabaré da Rrrraça foi criada por Márcio Meirelles e Bando de Teatro Olodum. Para essa nova remontagem, a peça terá a direção teatral de Cássia Valle, Leno Sacramento e Valdinéia Soriano, artistas de longa trajetória no grupo, e supervisão artística de Márcio Meirelles. A coreografia do espetáculo é assinada por Zebrinha (José Carlos Arandiba) e a direção musical é por conta de Jarbas Bittencourt.

A revista musical Cabaré da Rrrrraça aborda temas sobre as relações raciais no Brasil, que atualmente ocupam os debates nas redes sociais e na sociedade, a exemplo de temas como colorismo, as barreiras do mercado de trabalho, a sexualização de corpos negros, a oferta de produtos voltados para a estética negra e a polêmica sobre o racismo reverso.

Criada em 1997, a ideia de fazer a remontagem de Cabaré da Rrrrraça surgiu quando o espetáculo completasse 25 anos. No entanto, em meio a pandemia, o desejo de reencenar a peça foi adiada. Neste ano, o Cabaré da Rrrrraça comemora 27 anos. São 15 anos encenando o espetáculo ininterruptamente.

“O Cabaré é um espetáculo emblemático do grupo, assim como Ó Pai Ó. As pessoas pediam muito para a gente voltar. Tem um público que não conseguiu ver, que conhece a gente [o Bando] do filme [Ó Pai Ó] e que está louco para ver. Então, acho que é exatamente a emoção que a gente teve fazendo o filme 15 anos depois e quem assistiu, irá poder rever”, diz Cássia Valle, escritora, diretora e atriz do Bando de Teatro Olodum.

Segundo a artista, a ideia por trás do nome “Cabaré da Rrrrraça 25+25” é celebrar os 25 anos da peça e convidar o público para pensar junto com o Bando os próximos 25 anos do espetáculo.

“A brincadeira era para festejar o 25, e a gente quer convidar pessoas como você, que nunca assistiu. Como é que a gente constrói mais 25? Agora e agora. E os próximos 25, serão como? Até porque o espetáculo a todo momento questiona sobre essa questão do racismo”, explica Cássia.

Para a atriz e diretora, a ideia do espetáculo é instigar o público a refletir sobre o racismo que persiste até a atualidade.

“Vamos fazer uma remontagem, mas pensando muito no processo documento. O espetáculo é um documento de um tempo. E a gente vai futucar o nosso público para perceber que esse racismo não muda sempre. Que o racismo não muda, que o racismo, ele é camaleônico, mas ele persiste, existe e resiste. E algumas coisas, que a gente toca no espetáculo que foi criado em 1997, estão super atuais”, reflete Valle.

Formação

Além das novidades da peça, o público pôde conferir, ontem (26), um spoiler das ações formativas que o Bando de Teatro Olodum está promovendo nesta temporada. Na noite desta terça-feira ocorreu uma aula inaugural promovida pela professora e doutora Mabel Freitas, pesquisadora sobre Educação para as Relações Raciais e Ensino da Cultura Afro-Brasileira.

A formação gratuita oferecida pelo Bando de Teatro Olodum, há mais de uma década, terá um formato especial este ano, com três núcleos de aulas, acontecendo simultaneamente no Subúrbio, no Centro Cultural Plataforma; na Cidade Baixa, no Espaço Cultural Alagados; e no Centro Histórico, nas dependências do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab).

Ao todo, 90 pessoas, 30 em cada núcleo, receberão aulas de teatro, música, dança, memória e identidade negra, ministradas pelos artistas do Bando, em uma metodologia própria consolidada pelo grupo ao longo dos quase 34 anos de trajetória nos palcos e nas telas. Ao final das três formações, cada núcleo fará uma mostra e o encerramento será com um espetáculo reunindo todos os participantes.

“Todos passamos por oficina, faz parte do Bando de Teatro Olodum formar. Mas em 1990 queríamos criar um método, uma forma de fazer teatro preto e isso foi se aperfeiçoando. Aos poucos, chega Zebra [o coreógrafo e bailarino Zebrinha], com sua espetacularidade de ser humano, junta a criar um método para essa dança, para esse corpo preto que traz uma memória. Depois, chega Jarbas Bittencourt, luxuosíssimo e antes tínhamos uma banda mirim. Agora temos um diretor musical para criar músicas, sons, ritmos e métodos para esse novo grupo e público. O tempo foi passando e fomos percebendo o quanto é forte a nossa formação”, comenta Cássia Valle.

Quem está ansioso para participar das oficinas promovidas pelo Bando é o influenciador digital Yan Gil. O jovem que pretende atuar como ator, sonha em colaborar com o grupo teatral.

“Eu já estou tremendo aqui, porque é uma coisa diferente. A gente faz as gravações na rua. E aqui no bando tem as técnicas do teatro mesmo, coisa que a gente não pratica no dia a dia, quando está gravando em frente às câmeras. Então para mim, é uma diferença absurda. Eu já estou tremendo aqui. Estou muito nervoso e, ao mesmo tempo, feliz de poder estar com essa galera”, conta o influenciador.

A Wilson Sons, que viabilizou financeiramente o projeto Cabaré da Rrrrraça 25+25, é o maior operador integrado de logística portuária e marítima do Brasil e foi fundada em Salvador, em 1837. A parceria entre a empresa e o Bando proporcionará reflexões sobre a promoção da diversidade, equidade e inclusão no ambiente corporativo, governamental e artístico.

Este projeto conta com o patrocínio da Wilson Sons, via Programa de Isenção Fiscal Viva Cultura, da Prefeitura de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda – SEFAZ, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – SECULT e Fundação Gregório de Mattos – FGM.

Para Adriana Medeiros, especialista em EGS e sustentabilidade corporativa e supervisora de marketing do Tecon Salvador — unidade de negócios em Salvador da Wilson Sons, a parceria com o Bando de Teatro Olodum é uma experiência muito enriquecedora.

“A Wilson Sons é uma empresa baiana de 186 anos que nasceu aqui nessa capital afro cuja riqueza ancestral é conhecida mundo afora. Então ter a oportunidade de somar força com a iniciativa pública e o bando de teatro da maior companhia negra e popular do nosso país é uma experiência incrível”, inicia.

“Porque, para além da formação que ela oportuniza para esses 90 jovens, a mensagem que ela traz para tocar toda a comunidade, todo o cidadão baiano, é de extrema relevância para que a gente possa começar a construir um agora muito diferente, com um horizonte futuro mais justo, onde a gente mostre para o mundo a partir de Salvador, dessa capital afro, a valorização das nossas matrizes, a importância de um novo futuro muito mais justo, equilibrado e valorizando as nossas riquezas nesse berço tão incrível que temos o privilégio de ter nascido”, destaca Adriana.

Fotos: Fernanda Maia

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