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“Eu sou essa pessoa que, se eu descobrir que é uma coisa boa para mim, eu vou atrás”, conta Linda Bezerra, jornalista e editora-chefe do Correio

Editora-chefe do Correio conta, em entrevista ao repórter Jadson Luigi, sobre início de sua carreira, trajetória profissional e desafios da profissão

Linda Bezerra é uma das principais referências quando se pensa em jornalismo baiano na atualidade. Editora-chefe do jornal Correio há sete anos, a jornalista está na casa há 27 anos e já ocupou diversas funções como, por exemplo, produtora, colunista e editora. Antes de ser editora-chefe do Correio, Linda trabalhou na TV Band, onde atuou como produtora, apuradora e pauteira local.

Conciliando o trabalho no jornal Correio, Linda trabalhou no Jornal da Band, o principal telejornal nacional da emissora. Sobre o período, lembra de colaborar com os jornalistas, Carlos Amorim e Ricardo Boechat, esse último é sua inspiração até hoje. Na Band Bahia, chegou ainda a atuar como editora-chefe do Band Cidade, jornal local do canal, até decidir se dedicar exclusivamente ao Correio.

“Depois sair da Band, só fiquei no jornal porque recebi uma proposta financeira que cobria os dois salários. Aí, vim para o jornal, mas durante quase 10 anos trabalhei nos dois. Era uma jornada bem razoável, mas foi muito bom porque aprendi a lidar com televisão e aprendi a lidar com impresso. Lamento, inclusive, não ter feito estágio em rádio, por exemplo. Ainda trabalharei com o rádio, é um veículo muito interessante e, hoje com essa coisa de podcast, você pode trabalhar com rádio de uma forma diferente. Muito bacana”, revela.

Nascida no Piauí e radicada em Salvador, Linda veio para a capital baiana estudar jornalismo na Universidade Federal da Bahia. Na cidade, se formou e fez carreira. A profissional conta que o jornalismo não foi amor à primeira vista. Sua paixão mesmo era a sétima arte. Quando entrou na faculdade de jornalismo, a jornalista desejava ser cineasta.

“Depois que entrei no jornalismo, amei porque contava e conta histórias. Então, está na mesma área, mas eu não duvido que eu vá estudar cinema, que eu vá estudar sobre saúde, bem-estar, que eu vá estudar gastronomia. Por exemplo, aprendi a cozinhar durante a pandemia. Adoro cozinhar para os meus amigos e receber eles em casa, sabe? Adoro uma conversa com amigos”, diz.

Em entrevista ao repórter Jadson Luigi, a jornalista Linda Bezerra fala sobre o início da sua carreira, revela a sua trajetória até alcançar o comando de um dos maiores jornais do Nordeste e reflete sobre os desafios do jornalista na atualidade. Boa leitura!

Portal Umbu: Quem é Linda Bezerra?

É uma pessoa curiosíssima, adora viver e essa sede de vida é que me faz ir em frente. Essa sede de estar buscando novas informações, estar antenada, estar totalmente ligada com a sede de vida que tenho. Adoro viver e conhecer coisas novas. Eu também gosto de muita coisa.

Gosto de música, de cinema, de arte, de jornalismo, de contar histórias, de gastronomia. Gosto de saúde e bem-estar, por exemplo, eu agora frequento a academia sistematicamente, porque acabei de descobrir, há um ano mais ou menos, que qualquer pessoa madura tem que fazer musculação para poder ficar em pé firmemente. Logo, sou essa pessoa que se eu descobrir que é uma coisa boa para mim, vou atrás.

Sou formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, tenho 58 anos sou mãe e avó. Gosto de viajar e tenho muitos projetos, muitos. Busquei o jornalismo, por exemplo, para ser cineasta. Depois que entrei no jornalismo, amei porque contava e conta histórias. Então está na mesma área ali. Mas eu não duvido que eu vá estudar cinema, que eu vá estudar sobre saúde bem-estar, que eu vá estudar gastronomia, por exemplo, aprendi a cozinhar durante a pandemia. Adoro cozinhar agora para os meus amigos e receber em casa, sabe? Adoro uma conversa com amigos. Então sou essa pessoa assim. Gosto de bem-estar e de me sentir feliz.

Portal Umbu: Como foi a sua trajetória até se tornar editora-chefe do jornal Correio?

Comecei com produtora no jornal Correio e, um mês depois, como produtora da TV Band. Eu estava concluindo o Jornalismo, faltava só fazer o TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] e percebi que eu não sabia nada, que eu não tinha nenhuma experiência do mercado e eu vi uma reportagem na televisão justamente mostrando alguns profissionais. Inclusive jornalistas, fazendo outras coisas fora da profissão porque chegavam no mercado e não tinham experiência e não trabalhavam.

E aí, tive a ideia de me lançar no mercado para fazer estágio. Fiz logo dois estágios, tranquei a faculdade – só faltava mesmo TCC – e fui trabalhar como produtora no jornal Correio. Um mês depois, uma pessoa me viu trabalhando no correio gostou e me indicou na TV Band.

Antes disso, eu tinha feito um estágio no Sindicato dos Petroquímicos, trabalhava com June Meireles, uma grande jornalista, e fazíamos um jornalzinho e um programa de rádio as outras. As outras experiências foram na faculdade: em jornais da faculdade, experiências de disciplinas e fizemos um jornal por iniciativa dos alunos que chamamos de 336 2000, que era um jornal temático. Um dos jornais, por exemplo, chamamos de Phacom, com “ph”, que era para mostrar como a Faculdade (de Comunicação — Facom da UFBA) era jurássica, faltavam equipamentos, etc.

Nesses dois veículos, fiz minha carreira. Na Band, por exemplo, fui apuradora, depois virei pauteira local, depois virei pauteira do Jornal da Band, que é o principal telejornal deles, o telejornal nacional. Trabalhei com Carlos Amorim e com Boechat, aqui da Bahia eu pautava esse jornal. Também fui editora-chefe do Band Cidade.

Depois, saí da Band e só fiquei no jornal [Correio], porque recebi uma proposta financeira que cobria os dois salários. Mas, durante quase 10 anos, trabalhei nos dois. Era uma jornada bem razoável, porém foi muito bom porque aprendi a lidar com televisão e aprendi a lidar com impresso. Lamento, inclusive, não ter feito estágio em rádio, por exemplo – fiz só um estágio, um programa -, porque acho o rádio, um veículo muito interessante. Hoje, com essa coisa de podcast, você pode trabalhar com rádio de uma forma diferente, muito bacana.

Fiquei no jornal Correio, comecei como produtora, depois virei chefe de reportagem. Em seguida, liderei um projeto chamado Correio Repórter, que era um projeto com cadernos semanais especiais. Foi um projeto muito bacana e pioneiro – acho até que no Brasil – que era um jornalismo histórico que depois vieram iniciativas da ABL [Academia Brasileira de Letras] e depois surgiram livros como “1808”, que é você contar a história numa linguagem mais jornalística.

Isso, claro, com a equipe, com o chefe de reportagem, mas tinha toda uma equipe de editores – como Ana Paula Ramos -, um time de repórteres com textos incríveis – como Agnes Mariano, Eliezer César -, uma equipe que lideramos de super profissionais.

Depois virei chefe de reportagem do dia, que era todo jornal para cobertura geral. Atuei ainda como editora de abertura, que era uma editora responsável por todo o conteúdo do jornal. Eu coordenava toda a produção de conteúdo do jornal. Essa foi uma função que me viciou porque, no jornalismo, gosto da pauta, eu sempre acho que o jornalismo nasce na pauta. Uma boa pauta já é meio caminho andado para um bom jornalismo, para um bom jornal e para um bom conteúdo. Então meu grande lance é a pauta.

Depois, virei editora-chefe. Como editora-chefe tenho outras atribuições, mas eu não abro mão da pauta. Participo das reuniões que discutem a pauta porque acho mesmo que o brilho do jornalismo está numa boa pauta, está na linguagem, no olhar que temos sobre a informação.

Temos uns projetos, por exemplo, o “Correio de Futuro” que é um projeto que forma profissionais. Temos uma redação que é muito jovem, mas muito vibrante, sou apaixonada pelos jovens no jornalismo, aqueles que querem aprender, aqueles que se dedicam, que tem um texto bacana, correto e que têm desejo de ter um estilo diferente. Essas pessoas me animam muito e gosto muito de trabalhar com essas pessoas, porque, de fato elas ensinam muito a gente.

O Correio é um jornal muito disruptivo, inovador, que gosta de uma linguagem movimentada. Então, para mim, os jovens são parte disso. Temos uma redação que tem, na cabeça, cabelos brancos, pessoas mais maduras, mas tem muito jovem. De fato, apostamos nessas figuras mais jovens.

Foto: Rodrigo Rossoni

Portal Umbu: Quais foram os maiores desafios da sua profissão? Em algum momento eles se relacionaram a questões de gênero?

Qualquer mulher nesse país – não precisa ser só jornalista – tem sim desafios ainda a enfrentar.

Por exemplo, tem mulheres que exercem as mesmas funções que um homem e não ganham o mesmo salário. Esse é um desafio básico, por exemplo, que a mulher enfrenta. Mas eu, como mulher negra, nordestina, por exemplo, tenho desafios inúmeros. Porque é isso mesmo: temos que admitir que ainda temos muitos desafios como mulheres, negras e nordestinas.

Mas, eu acho que já avançamos bastante também. A redação do Correio é coalhada de mulheres. Temos muito mais mulher do que o homem na redação.

Tem que ter obrigação de manter essa equidade e de mostrar que a gente também é capaz de desempenhar qualquer função no jornalismo. Acho que um desafio básico que cito é que os salários ainda não são iguais, mesmo sendo a mesma função entre homem e mulher.

Continuo achando que o grande desafio é da minha profissão é você surpreender o leitor, para mim, o maior desafio é esse. É você surpreender o leitor com conteúdo novo, diferente, com uma história nova. Quando a história não é nova, poder contá-la de uma forma diferente. É um desafio diário, porque a gente vive a serviço do leitor.

Então, o grande desafio de verdade é você surpreender o leitor, manter o leitor fiel ao seu trabalho, ao seu texto, ao conteúdo que você produz. Esse é o grande desafio. É você contar boas histórias da melhor forma possível, da forma mais surpreendente e mais atraente, porque todo jornalista quer ser lido, ele não faz um conteúdo para não ser lido.

Duvido de um jornalista que diz “ah, eu não me incomodo de não ser lida”, duvido de um jornalista que diz isso. Fazemos um conteúdo para ser lido, seja pelo motivo que for, porque aquele conteúdo vai ser útil, porque a gente tem um ego e queremos alimentar ou porque a gente tem paixão pela profissão.

No meu caso, também tem o desafio da gestão. No meu caso, temos uma redação, muito diversa. Então, qual é o grande desafio nessa gestão? É você descobrir o talento das pessoas e extrair o melhor que elas têm para dar. Toda pessoa tem uma competência, tem um talento, então também é um desafio de gestão, no caso, porque eu não faço só o jornalismo, eu também estou gerindo jornalistas.

Nessa função de gestão que exerço é, de fato, um grande desafio você descobrir e manter talentos na empresa. Às vezes a pessoa tem um talento, você não sabe e a pessoa se desestimula, não trabalha mais, não quer mais trabalhar com você porque você não está extraindo o melhor dela.

Portal Umbu: Chefiando uma redação, hoje você é uma referência profissional para o jornalismo. Ao longo da sua carreira, quais jornalistas inspiraram sua jornada?

Tenho muitos jornalistas na minha equipe que me inspiram diariamente, seja por conta do texto que eles escrevem, seja por conta das pautas que eles sugerem, seja pela questão ética, profissional e envolvimento no trabalho. Tenho uma equipe extraordinária que se envolve com o trabalho, que busca dar o melhor. São pessoas que me inspiram muito diariamente em pessoas éticas, honestas e sérias.

No dia a dia, vou citar um nacional que eu sempre me inspirei: Boechat. E por quê? Primeiro, ele era inteligente, ele era muito culto, muito bem informado, lia muito, era um comentarista de mão-cheia, porque ele poderia falar sobre muita coisa. Eu acho que o jornalista tem que buscar essa qualidade de ter condições, de falar sobre o máximo de assunto, então, um jornalista bem informado vai me inspirar, sempre. Boechat era essa pessoa, que já faleceu, mas que continua como um exemplo atual. Se você pegar um comentário de Boechat hoje, você vai ver que ele continua atual.

Era uma pessoa que estava à frente do seu tempo porque via à frente, poderia fazer um comentário. Gosto muito de jornalismo de opinião. Agora, para você dar opinião, você tem que ter, de fato, um arcabouço de cultura, de informação e preparo.

Portal Umbu: Hoje, as redações de jornais estão cada vez mais ocupadas por pessoas jovens. Se por um lado, há um frescor nesses ambientes, por outro, vemos profissionais com mais experiência, como o jornalista Jânio de Freitas, deixando as redações. Subvertendo essa lógica, você é uma jornalista experiente que segue se reinventado na profissão. Como você analisa o seu caso e o mercado de jornalismo hoje?

Eu acho que, de fato, as redações estão muito jovens, tem uma mudança. [As redações] estão jovens, porque nem todos os jornalistas estão antenados nas novas ferramentas e de fato, hoje, a profissão exige que estejamos antenados nas novas ferramentas. Nem todo mundo consegue se atualizar, mas você precisa se atualizar, tenho na redação, por exemplo, pessoas jovens super antenadas, mas que precisam melhorar o texto, precisam trabalhar melhor o texto e tenho pessoas de cabeça branca que estão antenadíssimos.

Eu acho que, hoje, uma redação ideal é aquela que tenha jornalistas experientes e jornalistas jovens. Eu acho que a redação ideal é essa. Porque os experientes podem ajudar os jovens com seu conhecimento, com sua expertise na apuração, com seu jeito de conquistar fontes, com sua velha agenda, com sua antena ligada no que a fonte diz. Porque a questão é que, às vezes, a fonte diz uma coisa e quando você tem informação, você tem condições de reverberar mais o que ela disse.

Já o jovem tem acesso às ferramentas, mas o ideal é você ser experiente e se atualizar nas ferramentas, aí você vai ser um profissional completo e tem muito jornalista espalhado pelo país que está ligado nisso. Na minha redação, tenho várias pessoas que estão antenadas. Procuro ficar perto das pessoas que sabem, gosto de ficar perto das pessoas que sabem, por isso que a redação é jovem e madura.

A nossa profissão está passando por uma transformação não só nossa, mas a nossa foi uma das primeiras, digamos assim, a viver o impacto dessas mudanças.

A gente sabe que inovação não é só sinônimo de tecnologia, às vezes estar antenado significa pensar diferente uma coisa antiga, falar diferente uma coisa que é antiga. Então inovar não significa estar só antenado em tecnologia, mas inovar é você fazer uma coisa antiga de modo novo. Nisso a gente precisa que qualquer jornalista esteja muito antenado. Logo, é uma questão de sobrevivência mesmo, não estar antenado a isso é você se distanciar da sua profissão, porque ela está mudando todo o dia.

Foto: Reprodução/Alô Alô Bahia

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