Jornalista Guilherme Soares Dias publica obra que é a primeira a trazer a temática e reúne textos sobre os cinco anos de história do Guia Negro
Com a proposta de abordar a diversidade no universo do turismo, será lançado nesta quarta-feira (17) o livro “Afroturismo, afeto, afronta e futuro”, no restaurante “Ó Pai Ó”, no Largo Terreiro de Jesus, no Pelourinho.
O lançamento tem início às 19 horas com noite de autógrafos com término às 22h. A obra é assinada pelo jornalista e fundador do Guia Negro, Guilherme Soares Dias e traz textos dos cincos anos da plataforma de afroturismo.
Para fazer a curadoria de todo esse material ao longo desses cinco anos, Guilherme levou em conta a recorrência dos temas tratados na plataforma. “Não foi uma escolha tão fácil, é sempre difícil decidir quais materiais irão entrar no livro. Mas, esse trabalho foi gostoso também porque pude revisitar muitos desses conteúdos e trazer para esse novo formato do livro”, explica.
São experiências de viajantes negros e negras, dicas de lugares de cultura e história negra, além de debates sobre o afroturismo. “É a consolidação do nosso trabalho que traz as pessoas negras para o protagonismo. Um documento que contribui para conhecermos mais histórias que a história não conta”, define Guilherme.
Salvador é um dos destaques da obra, por ser considerada a Meca Negra, um local que todos os pretos precisam visitar. Os textos mostram o subúrbio ferroviário, a Noite da Beleza Negra, a decadência do Pelourinho após o verão e relata ainda a importância dos blocos afros e das festas de largo.
Em seu livro, Dias explora as consequências da baixa temporada para o centro histórico da capital baiana. “O Pelourinho é um lugar geralmente muito vivo durante o verão e que a gente tem várias atividades culturais, apresentações, muita gente visitando. E depois a realidade é bastante dura com os comerciantes. Porque a gente tem, além da chegada da chuva, ausência de pessoas visitando, então isso tudo traz um baque econômico muito grande. Acho que é algo a se pensar, de ter atividades culturais no ano todo, com atrações e atrativos para o Pelourinho. Ter uma política pública continuada para essa região da cidade que é tão importante e que é a cara e o coração de Salvador”, argumenta.
Há também críticas ao Salvador Capital Afro, programa da prefeitura de Salvador dedicado ao afroturismo, que deixou de fora alguns atores do setor.
“Sobre o Salvador Capital Afro, é sobre a crítica da ausência de pessoas fazendo afroturismo. Assim que o programa surgiu, foi uma crítica importante, até para eles correrem atrás disso. Mas também foi uma crítica que nos tirou totalmente do programa. Hoje é um programa da prefeitura que constrói políticas públicas, que faz ações, principalmente de marketing, ligadas ao afroturismo e do qual o Guia Negro ficou de fora exatamente por ter apontado esse problema ali.”
“Percebemos que é um problema contínuo. Então, não só tem essa ausência de pessoas da afroturismo, como tem uma ausência de capacitação para entidades do movimento negro para receberem turistas. E aí eu estou falando de blocos afros, entidades de capoeira e terreiros que não foram capacitados para receber o turismo. Algo importante de ser apontado, e é uma coisa que a gente fica de olho ainda, e que a gente queria ver sendo feito pela prefeitura nesse programa, que é tão importante para a cidade, que é de vender Salvador como uma capital negra”, complementa.
Depois de lançar o livro em São Paulo, no mês de dezembro, Guilherme está animado para apresentar aos soteropolitanos o resultado do seu trabalho.
“Salvador é a cidade onde eu vivo, uma parte do ano eu moro entre São Paulo e aqui. Em Salvador, eu lanço o livro agora nesta quarta-feira. Vai ser um momento de estar entre amigos e fazer com que essa obra alcance mais pessoas, de ver esse filho nascendo, então a expectativa é de uma noite de celebração. Salvador aparece como protagonista desse livro, então muitas das histórias nascem aqui em Salvador e é importante que elas voltem, que as pessoas se vejam espelhadas e descubram também novas histórias, novas lugares que talvez elas não conheçam ainda”, explica.
O livro faz parte do Selo Katuka Edições, da Katuka Africanidades, que tem como objetivo publicar obras de autores negros, o livro estará a venda no local e o valor é de R$ 70.
Sobre o Guia Negro
O Guia Negro produz conteúdo, faz consultorias em diversidade e organiza roteiros desde 2018 com o intuito de fortalecer a memória dos brasileiros à respeito das contribuições do povo negro para o país. As experiências turísticas construídas pela plataforma propõem a visitação de locais que contam mais de cinco séculos da história do negro na formação da nação brasileira
Foto: Heitor Salatiel