Reportagem do Portal Umbu conversou com a autora durante o lançamento, em Salvador
“Antonieta de Barros: Discursos, entrevistas e outros textos”, livro de autoria da professora e escritora Jeruse Romão, foi lançado nesta terça-feira (14), durante a II Semana da Consciência Negra BANTU, no Teatro Gregório de Matos, em Salvador. Promovida pelo Instituto Bantu, a II Semana da Consciência Negra BANTU: Celebrando Identidade e Cultura teve início no dia 14 e tem programação até hoje (16).
Autora do livro, Jeruse Romão é natural de Florianópolis (SC), terra de Antonieta de Barros, e professora com atuação nas questões de gênero e raça. Tema do livro, Antonieta tinha 21 anos quando fundou uma escola e, aos 24, já colaborava em jornais. Em 1934, foi eleita Deputada Estadual por Santa Catarina pelo Partido Liberal Catarinense.
Segundo Jeruse, a política e jornalista catarinense é uma inspiração para ela e para outras professoras negras. Ao escrever a história da primeira deputada negra do Brasil, Jeruse buscou resgatar a trajetória de Antonieta, uma vez que a história da parlamentar era contada sob a ótica de pessoas brancas.
“Na medida em que eu fui amadurecendo, fui entendendo melhor. Com a militância do Movimento Negro, eu passei a fazer parte daquela geração que vai tirar Antonieta do esquecimento histórico. Há uns 10 anos atrás, eu percebi que era necessário escrever a biografia dela. Nós tínhamos retalhos da história dela ainda muito dominada e apropriada pelos brancos”, disse Jeruse.
O projeto de escrita do livro durou dez anos e foi cheio de desafios para Jeruse Romão, isso porque Antonieta não deixou acervo físico. Nos anos 1950, a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina sofreu um incêndio, então os registros pessoais e políticos se perderam no acidente.
“O livro, ele está trazendo 400 fontes, porque ele também se propõe a ser um inventário, não definitivo, mas aquele que se aproxime mais do percurso que uma pessoa negra deve ser lida. Traz ainda 53 imagens, porque a gente acessa o álbum de fotografia da família, que é um dos poucos objetos do acervo dela”, explicou.
“Ele é um fotolivro, mais ou menos. É um álbum-livro. A ideia era entregar uma Antonieta humanizada, mais próxima da gente preta e desmistificando alguns tabus que a intelectualidade branca e o próprio feminismo catarinense tinha de que ela não flexionou raça, gênero e temas essenciais”, complementou Romão.
Apesar das dificuldades, como a falta de acervo pessoal da parlamentar, Jeruse Romão conseguiu coletar muitas informações nos jornais onde Antonieta colaborou no século XX. “Ela foi uma jornalista negra, a única jornalista negra do tempo dela e uma das jornalistas mulheres com mais tempo na imprensa catarinense. Ela escreveu de 1922 e 1951, com interrupções no período que ela teve mandato”, apontou.
Para Jeruse, Antonieta de Barros deixou inúmeras contribuições para os parlamentares negros, isso porque a deputada abriu caminhos para que eles ingressassem na política. Ainda de acordo com a escritora, a influência da deputada vai além das fronteiras do Brasil, pois, sua atuação é pioneira na América Latina.
“O parlamento brasileiro aumentou o número de população negro, mas ainda é muito pouco, se você considerar que nós somos a maioria da população. Mas ainda assim é importante que esses negros na política entendam o papel importante da Antonieta para abrir esse caminho, essa porta. Temos uma dificuldade de memória muito aguda para alguns campos no Brasil. A gente acha que está sempre descobrindo a roda do nosso tempo e Antonieta abre as portas da política para os negros no Brasil”, finaliza.