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Fomos treinados para consumir

Hoje fui procurado por uma pessoa super inteligente e bem posicionada socialmente, pedindo conselho de como poderia organizar a sua vida financeira. Uma pessoa que foi educada em boas escolas e teve acesso ao ensino superior e fez até pós-graduação, mas se diz incapaz de organizar as próprias finanças e, por este motivo, mesmo recebendo um salário mensal que a coloca entre os 10% da população de melhor remuneração do país, não consegue dormir em paz porque vive no cheque especial e flertando com o rotativo do cartão de crédito e empréstimos consignado. Como isso é possível? Simples, nós fomos condicionados a consumir de forma desenfreada e sem o menor planejamento.

Boa parte deste problema é explicado pela falta ou exclusão proposital de educação financeira nas escolas no passado. O assunto até hoje encontra resistência, não sei por que, para ser implementado como uma obrigatória disciplina no currículo escolar, que ensine as nossa crianças a não ter medo dos números e apresente a matemática financeira, através de exemplos do cotidiano, para que esses futuros adultos entendam a importância de um planejamento de gastos, de uma formação de reserva e sejam estimulados ao empreendedorismo.

Outro fator importante que pode justificar esse comportamento desmedido por adquirir, até mesmo o que não tem necessidade, são os bombardeios diário de propagandas com mensagens subliminares ou explícitas de que a pessoa só é feliz se compra isso ou aquilo, que o melhor lugar do mundo para passear são os shopping centers e que comprar uma coisinha relaxa e deixa a pessoa mais feliz. Sim, deixa feliz… o dono da loja, o banco e o governo que ganha sua parte em forma de impostos a cada bem ou serviço que você adquire ou contrata.

Junto às propagandas existem também as estratégias dos fabricantes de sempre lançar novos produtos ou o mesmo produto com pequenas modificações para estimular a substituição e a tal obsolescência programada. Já ouviu falar nisso? Não? Mas, com certeza, você já foi vítima. Obsolescência programada é quando o fabricante planeja a quebra ou interrupção da fabricação de item ou componente deste item, depois de um determinado período de tempo, para forçar o consumidor a substituí-lo por um novo. Quem nunca teve uma TV que queimou a placa principal um mês após o término da garantia?

Observando todos esses cenários, eu tenho cada vez mais certeza de que todo esse estímulo ao consumo é planejado. Que existe um interesse enorme em manter as pessoas endividadas e, consequentemente, estimuladas a trabalhar mais e em piores condições para honrar seus compromissos e consumir mais e assim por diante.

Desta forma, os ricos continuam mais ricos, pois são eles que possuem o capital para investir e produzir esses “novos” produtos indispensáveis para vida moderna. O da moda agora é a “Air Fryer” que promete comida saudável e sem gordura e mantém os pobres cada vez mais pobres e endividados porque teve que comprar esse aparelho por conta do colesterol. Vai vendo.

Mas, nem todo plano é perfeito. Para essa estratégia funcionar, esse estímulo não poderia ser explícito e aí vem a necessidade de criar o enredo, uma realidade, um teatro para fazer com que as pessoas acreditem na necessidade e “escolham” seguir por esse caminho. O problema é que esses métodos ficaram tão sofisticados ao longo dos anos que levaram a sociedade a não distinguir o que é real do que é produzido.

Quem lembra da questão do ovo? Nas décadas de 80 e 90, o coitado do ovo era considerando o vilão da saúde do brasileiro, pois elevava a níveis mortais o colesterol ruim. Hoje, por incrível que pareça, esse mesmo ovo é considerado um dos alimentos mais completos e amigo do coração.

Tudo isso levou as pessoas a darem um nó na cabeça e simplesmente reagir consumindo. Basta um pequeno estímulo, seja ele real ou não, para ativar o condicionamento. Esse comportamento social se tornou tão preocupante que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerar e classificar a Compulsão por consumo ou Consumismo como um transtorno psicológico sério (CID 10 – F63.8).

Minha sugestão para não entrar nessa armadilha, ou se já entrou conseguir sair, é ter coragem de se perguntar: “Isso é mesmo necessário neste momento?”. Faça essa pergunta toda vez que a vontade de comprar alguma coisa vier à cabeça. Tenho certeza de que você vai se surpreender com a resposta.

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Cassio Adriano
Cassio Adriano
1 ano atrás

Verdade , o consumismo é uma realidade do cotidiano.

FLavia felix
FLavia felix
1 ano atrás

Excelente 👏👏👏👏

Icaro Amaral
Icaro Amaral
1 ano atrás

Grande Adelmo, realmente fomos treinados para consumir! É sempre bom ler e aprender com o senhor e seus conhecimentos.

Danilo Leite
Danilo Leite
1 ano atrás

Estimado Adelmo, bom dia!

Gostaria de agradecer pela aula compartilhada. Além da coerência desse texto, ele nos propõem a refletir sobre nossas ações. Ademais, instigando o questionamento “será que realmente é necessário eu comprar este produto?”.

Leonardo borges
Leonardo borges
1 ano atrás

Parabéns pelo texto Adelmo, sempre trazendo uma visão diferenciada e gatilhos voltado para nossa necessidade de autoavaliação.

Caio sousa
Caio sousa
1 ano atrás

Conhecimento, informação e qualidade reunidos em um só lugar!

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