Entidade lança campanha em defesa do bem-estar materno e neonatal

No Dia Mundial da Saúde, celebrado nesta segunda-feira (7), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que quase 300 mil mulheres perdem a vida todos os anos em razão da gravidez ou do parto. Além disso, mais de 2 milhões de bebês morrem ao longo do primeiro mês de vida e outros 2 milhões são natimortos – ou seja, falecem após 20 semanas de gestação no útero ou durante o parto.
“Isso representa aproximadamente uma morte evitável a cada sete segundos”, destacou a entidade.
Entre essas mortes, as mulheres negras estão entre as mais afetadas. No Brasil, dados preliminares da OMS de 2022, cruzados com informações do Ministério da Saúde, apontam que enquanto a taxa de mortalidade materna entre mulheres brancas é de 46,56 por 100 mil nascidos vivos, entre as mulheres pretas esse número mais que dobra, chegando a 100,38. Para mulheres pardas, a taxa também é mais elevada: 50,36 por 100 mil. Esses índices estão longe da meta que o país assumiu junto às Nações Unidas de reduzir a mortalidade materna para menos de 30 mortes por 100 mil nascidos vivos até 2030.
Além da frequência mais alta, as causas das mortes também são atravessadas pelo racismo estrutural e desigualdades de acesso a cuidados. Dados da pesquisa “A cor da dor”, realizada pela Fiocruz, revelam que mulheres negras relatam mais frequentemente negligência, violência obstétrica e falta de acesso a cuidados emergenciais. O risco de morte por causas como hemorragia, hipertensão gestacional e aborto inseguro é significativamente maior entre mulheres negras e indígenas.
Campanha global:
Em razão da data, a OMS lançou uma campanha internacional de um ano, com o tema “Começos saudáveis, futuros esperançosos”, voltada à promoção do bem-estar materno e neonatal.
“A saúde de mães e bebês afeta cada um de nós. Ainda assim, milhões de vidas são perdidas todos os anos por causas evitáveis com atendimento oportuno e de qualidade”, afirma a entidade.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou que o modo como começamos a vida influencia todo o percurso de uma pessoa. “Quando mulheres e recém-nascidos não apenas sobrevivem ao parto, mas mantêm boa saúde, isso fortalece famílias, comunidades e contribui para o desenvolvimento econômico e estabilidade social”, disse.
Avanços e desafios:
Apesar da gravidade dos números, houve avanços importantes nas últimas décadas. A OMS destaca que, desde o ano 2000, as mortes maternas caíram 40% em todo o mundo, e os óbitos entre recém-nascidos caíram pouco mais de 30%.
Em números absolutos, as mortes maternas caíram de 443 mil em 2000 para 328 mil em 2015, e 260 mil em 2023. Pela primeira vez, em 2023, nenhum país foi classificado como detentor de taxas extremamente altas de mortalidade materna.
Além disso, entre 2000 e 2023, o acesso a cuidados de saúde também melhorou globalmente:
21% de aumento no acesso ao pré-natal;
25% de aumento no acesso a profissionais qualificados no parto;
15% de aumento no acesso ao cuidado no pós-parto.
Ainda assim, quatro em cada cinco países estão longe de atingir as metas de redução de mortes maternas até 2030, e um em cada três países não deve atingir as metas de redução de mortes neonatais.
Políticas públicas para mulheres negras no Brasil:
Diante da disparidade racial, o Ministério da Saúde lançou, em 2023, a Rede Alyne, uma política voltada à redução da mortalidade materna de mulheres negras em 50% até 2027. O programa substitui a Rede Cegonha, com foco em equidade racial no cuidado à saúde reprodutiva e materna, e um investimento inicial de R$ 400 milhões.
A medida homenageia Alyne da Silva Pimentel, uma mulher negra da Baixada Fluminense que morreu em 2002 após ter atendimento negado em unidades de saúde pública e privada — um caso emblemático que chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos e resultou na condenação do Estado brasileiro em 2011.
Fonte: Agência Brasil