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Cintia Maria e Jamile Coelho – Duas mulheres de responsa!

Cintia Maria e Jamile Coelho no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) | Foto: Cristian Carvalho/Divulgação

Cintia Maria e Jamile Coelho. Vocês já ouviram falar? Se não, é bom prestar a atenção, pois essas duas mulheres, de forma firme e serena, estão reconstruindo a cena cultural da cidade do Salvador a partir da memória da cultura negra.

Elas são as gestoras atuais do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), reaberto recentemente, após três anos fechado, por conta de um sem número de dificuldades.

Em verdade, Cintia e Jamile são muito mais que gestoras de um espaço cultural importante, como é o Muncab. Elas são a renovação criativa e sensitiva de um modo mais abrangente e contemporâneo de se fazer cultura na Bahia. Ou seja, elas expressam um olhar contemporâneo, qualificado e sensível ao traduzir a memória cultural afro brasileira, onde não há espaço para pieguices ou lacrações.

Apesar de jovens, elas são profissionais tarimbadas da área de comunicação. Cintia possui larga experiência na área de redes sociais, tendo realizado excelentes trabalhos na Fundação Pedro Calmon ao lado da criadora desse espaço (Portal Umbu), Camilla França. Jamile é cineasta com trabalhos reconhecidos e premiados, a exemplo de “Um dia de Jerusa”, que se encontra no catálogo da Netflix.

Conjuntamente as duas assinam o curta metragem em Stop Motion – Orun Ayé, que ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema Baiano (2017), ao retratar e combater os estereótipos em relação as religiões de matriz africana.

Essas duas mulheres negras estão provando, por meio das suas habilidades e ousadias, que a cultura baiana é muito mais do que a monocultura do Axé, dos ensaios monotemáticos onde dois acordes (quando muito) e um conjunto de rimas pornográficas passam a ser “o jeito de ser baiano”.

Em pouco menos de dois anos à frente do Muncab, Cintia e Jamile, conseguiram a um só tempo, imprimir o selo de qualidade da qual o espaço é originário, (afinal, o seu criador é nada mais nada menos do que o consagrado poeta do tropicalismo – José Carlos Capinam), assim como dar a visibilidade nacional que um museu com essas características merece.

Prova disto, é que na sua reabertura tivemos a Exposição “Um Defeito de Cor”, inspirada no livro homônimo da escritora Ana Maria Gonçalves e que foi considerada a melhor exposição do ano de 2022, quando esteve no MAR (Museu de Arte do Rio).  

“Levar a exposição para a Bahia é como fazer a história voltar para casa. Foi lá que tudo começou, é lá que os personagens do livro vivem boa parte das suas trajetórias, é de lá que veio a luta pela liberdade que modificou os rumos da escravidão no Brasil, a rebelião malê”, afirmou Ana Maria Gonçalves.

Além disso, a exposição cumpriu o objetivo de recolocar o museu no cenário cultural nacional. Não foram poucas as matérias veiculadas nas emissoras de TV, como a Globo, Bandeirantes, Record, assim como jornais de circulação nacional a exemplo da Folha de São Paulo, que dedicaram generosos espaços para saudar a reabertura desse importante espaço.

Apesar dos percalços, (que não são poucos), Cintia e Jamile, conseguiram apoio de várias instituições públicas e privadas, a exemplo da Prefeitura de Salvador para retomar e concluir as obras que ainda faltam para que o espaço possa funcionar adequadamente.

Essa tessitura entre o administrativo e o cultural, entre a manutenção do espaço e o seu entorno, entre o racismo e o machismo, não é coisa fácil. Não nos esqueçamos de que o Museu é da Cultura Afro-Brasileira, carregado, portanto, de toda sorte de discriminações. Se agregarmos a esse desafio o fato de serem duas mulheres negras, aí é que o bicho pega.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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